terça-feira, 6 de janeiro de 2009



06 de janeiro de 2009
N° 15840 - DAVID COIMBRA


Tática revolucionária

O Cosme Rímoli é um grande repórter. Em talento e compleição física. Lá em São Paulo, onde milita, chamam-no de Cosmão. É um tipo meio árabe, de metro e noventa de altura, frequentador de academias e, segundo a lenda, virtuose das pistas de dança da pauliceia. Faz certo sucesso com as mulheres, o Cosmão.

Um Casanova de laptop. Mas também já o vi servo do amor, suspirante, pensativo antes de puxar a perna de uma vírgula ou indeciso sobre que verbo será mais feroz para descrever um gol perdido.

Cosmão já cobriu quatro Copas. Todos o conhecem, no ambiente da Seleção. Luiz Felipe, em especial, o admira e o distingue. Durante as coletivas, costuma comentar:

– O Cosme aqui sabe muito bem que...

Um jeito de o Luiz Felipe se exibir com os outros jornalistas.

Agora, neste dezembro dourado, Cosme Rímoli assinou duas entrevistas exclusivas para a Zero Hora, que ele, paulista, chama de “o” Zero Hora.

Uma das entrevistas foi com nosso medalhista de ouro, César Cielo. A outra com Muricy Ramalho. A do Muricy foi muito elucidativa. Em resumo, Muricy defende duas bandeiras. Ei-las:

Bandeira número 1 – Muito pouca gente no Brasil e na Terra entende de futebol.

Bandeira número 2 – Os técnicos são importantíssimos para os clubes. E, de todos os técnicos, um ele destacou com maior entusiasmo: Celso Roth, do Grêmio.

No caso da bandeira número 2, alguém poderia argumentar que Muricy só poderia mesmo elogiar Celso Roth, já que, no Campeonato Brasileiro, ele, Muricy, terminou como campeão e Roth como vice.

Mais: Roth estava 11 pontos à frente de Muricy, e ainda assim perdeu o campeonato. Quer dizer: um adversário desses merece todos os elogios.

Mas é claro que Muricy não estava sendo assim tão solerte quando concedeu a entrevista ao Cosme. Ele não seria ardiloso e sutil a esse ponto. Na verdade, Muricy, ao elogiar Roth e todos os técnicos do Brasil e quiçá do mundo, tentava exaltar, justamente, a bandeira número 2. Ou seja: muito pouca gente entende de futebol.

Com exceção dos técnicos.

Trata-se de um raciocínio precioso, e precioso é o adjetivo mais adequado para essa questão: os treinadores são detentores de um conhecimento exclusivo. Eles, e só eles, estão imersos nos mistérios e segredos do futebol, mistérios e segredos de tal forma herméticos que os técnicos pedem, e os clubes lhes pagam, salários de centenas de milhares de reais. Centenas de milhares!

Não é por acaso que os técnicos de futebol são chamados de professores. Eles ensinam os jogadores a jogar, eles planejam tudo o que vai acontecer durante uma partida. Eles mudaram até a linguagem do futebol.

Agora há atacantes que flutuam atrás da zaga, há jogadores de passagem, jogadores que atuam por dentro e outros que vão pelos lados do campo, agora muitos jogadores, que coisa, espetam, e alguns times jogam em duas linhas de quatro.

Duas linhas de quatro. Gosto especialmente disso. Gostaria de ver, por exemplo, um time jogando em cinco linhas de dois. Ou, melhor: 11 linhas de um. A tática, revolucionária, seria o um-um-um-um-um-um-um-um-um-um-um. Que lindeza.

Observe um treinador nas fímbrias do gramado, de pé na chamada “área técnica”, uma área que não existia quando os técnicos não eram professores, área criada só para eles, como tronos imaginários.

Lá está o treinador, dentro de seus mocassins italianos, apontando o indicador e o dedo médio da mão esquerda em vê para algum meio-campista e, em volta desses dois dedos, traçando círculos com a mão direita. O que significa esse gesto? Ah! Só os iniciados sabem.

De onde vem tanta sabedoria? De que fonte bebem esses escassos privilegiados? São perguntas difíceis de responder. Mas, se você por acaso me perguntar se prefiro um técnico de R$ 300 mil ou três centroavantes de R$ 100 mil, isso eu respondo. Ah, isso sei responder.

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