quinta-feira, 2 de junho de 2022


02 DE JUNHO DE 2022
RODRIGO LOPES

Os livros na estante

Organizar livros na estante é como embarcar em uma viagem ao passado, voltar ao presente, aventurar-se pelo Exterior e ingressar em nosso mundo interior. Fiz isso dias atrás, ao me dar conta de que algumas obras, lado a lado, já não conversavam entre si. Viajei a 1985, quando, com sete anos, ganhei Um Guri Daltônico, do Carlos Urbim, e esbarrei até no primeiro álbum de figurinhas: um mapa-múndi com bandeiras dos países.

Escolho a posição de cada livro buscando uma lógica particular. Elevo os escritos por amigos a posições solenes, esses precisam ficar por perto. Nesse altar particular, de ode à cultura, também têm lugar de honra edições de capa dura. E há aqueles que posiciono estrategicamente para, de vez em quando, abrir despretensiosamente. E deles transbordam trechos como: "(?) A morte de um único homem me diminui, porque eu pertenço à humanidade. Portanto, nunca procures saber por quem os sinos dobram. Eles dobram por ti". Bravo, Hemingway?

Prateleiras servem como compartimentos de nossa mente, revelam como nos reconhecemos. No meu caso, o jornalista aparece em duas delas, uma reservada aos livros de colegas, como Eliane Brum, Caco Barcellos, Elio Gaspari, José Hamilton Ribeiro, Gay Talese e Truman Capote; e outra, de obras acadêmicas. Reservo área especial aos clássicos de guerras (Guerra e Paz, de Tolstoi, e Os 10 Dias que Abalaram o Mundo, de John Reed), histórias do Oriente Médio (Pobre Nação, de Robert Fisk, e De Beirute a Jerusalém, de Thomas Friedman). Em outra prateleira, ficam os que chamo de "conhecimento geral": a biografia do papa João Paulo II (Sua Santidade, de Carl Bernstein e Marco Politi); Armas, Germes e Aço: Os Destinos das Sociedades Humanas, de Jared Diamond, e o best-seller Sapiens, de Yuval Harari.

O leitor mais atento terá percebido a ausência de ficção. Estão na estante Os Versos Satânicos, As Mil e Uma Noites e Cem Anos de Solidão, mas reconheço minha dívida com o gênero. Por enquanto, tenho a ambição de conhecer mais histórias de gente de carne e osso e de viajar pela História. Para as relações internacionais precisei abrir novas prateleiras para calhamaços como Paz e Guerra entre as Nações, de Raymond Aron, A Política entre as Nações, de Hans Morgenthau, e Ascensão e Queda das Grandes Potências, de Paul Kennedy. Por via das dúvidas, mantenho por perto também a Bíblia e o Alcorão. Nas biografias, faço questão de posicionar como vizinhos Adolf Hitler e Nelson Mandela, Fidel Castro e Augusto Pinochet, Barack Obama e Donald Trump, Joe Biden e Vladimir Putin, em um arranjo muito particular - a fórceps. Afinal, na minha estante, a decisão é só minha. Nela, Tempo de Morrer está, é claro, ao lado de Tempo de Viver.

INTERINO

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