terça-feira, 7 de junho de 2022


07 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

SINAL BLOQUEADO NAS CADEIAS

A facilidade de detentos para se comunicar de dentro de casas prisionais com telefones celulares é há muito conhecida. Não há dúvida, portanto, de que o poder público tem demorado a dar uma resposta efetiva para acabar com essa tranquilidade reinante no interior das cadeias. Afinal, é uma situação mais do que notória, assim como as consequências, e existe tecnologia disponível para cortar o contato com o exterior. Mas agora, a despeito de considerável atraso, surge a expectativa de que essa farra possa estar começando a ter os dias contados.

O governo gaúcho tem o plano de investir R$ 29,2 milhões para instalar bloqueadores de celulares em 15 unidades prisionais do Estado até novembro, além de um desembolso mensal de R$ 5 milhões para a manutenção da estrutura. O trabalho começou no mês passado. Nesses locais, está sob a custódia do Estado quase metade da massa carcerária do Rio Grande do Sul. Além do sinal de telefonia móvel, os equipamentos também são capazes de impedir a operação de drones, equipamentos vastamente utilizados por quadrilhas para enviar telefones, drogas e até armas para o interior dos presídios.

Trata-se de uma iniciativa indispensável para o combate à criminalidade. É consabido que líderes de facções, mesmo presos, recebem informações e enviam ordens aos seus comparsas nas ruas, orientando-os sobre como agir. Reportagem de Letícia Mendes publicada na superedição de Zero Hora fez o relato de crimes comandados ao vivo de dentro das prisões. Nos últimos anos, cresceu consideravelmente o número de estelionatos, e muitos desses golpes, graças à facilidade de acesso à tecnologia, são aplicados por pessoas que estão dentro das cadeias. Cortar esta corrente de comando e evitar outros tipos de delitos significa dificultar o planejamento de grupos criminosos e, possivelmente, obstaculizar a proliferação de extorsões e estelionatos.

São espantosos os números de celulares apreendidos no Estado. Foram 13 mil no ano passado e 3,5 mil no primeiro trimestre de 2022. É uma ação necessária, mas nota-se que se resume a enxugar gelo. Novos aparelhos seguem sendo levados aos presos. Muito mais eficaz é fazer com que percam a utilidade. De maneira complementar, o bloqueio a drones colabora para que o império da lei se concretize, impedindo a entrega de itens proibidos.

Hoje, a Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan) é a única que conta com o sistema. Por uma questão estratégica, o governo gaúcho não informa todas as casas prisionais que receberão os bloqueadores. Mas confirma que a prioridade será dos locais mais problemáticos. O esperado seria que, em uma futura segunda fase da iniciativa, mais cadeias e presídios também possam ter o sistema. A criminalidade tem de ser enfrentada de formas múltiplas, do policiamento ostensivo às ações de inteligência, passando por um sistema prisional mais eficiente. Cessar a comunicação com as ruas é uma das formas para conter a ousadia dos delinquentes e contribuir para que os cidadãos tenham mais segurança e fiquem menos suscetíveis a golpes. 

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