15 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
TENSÃO NOS MERCADOS
Os mercados globais vivem dias tensos à espera da decisão do banco central norte-americano (FED, na sigla em inglês) sobre a magnitude da alta do juro no país. A decisão sai hoje à tarde e, após dados de inflação acima do esperado, aumentaram as apostas em uma elevação de 0,75 ponto, superior às expectativas recentes (0,5). Hoje a taxa nos EUA está em uma faixa entre 0,75% e 1%. Pode parecer pouco para os padrões brasileiros, mas não é nada trivial para a maior economia do mundo. Basta lembrar que, se a alta de 0,75 se confirmar, será o maior aperto monetário desde 1994. No mês passado, o FED subiu o juro 0,5 ponto e já foi o mais significativo movimento em 22 anos.
Boa parte dos brasileiros talvez nunca tenha ouvido falar do FED. Mas o que a instituição decidir hoje tem o potencial de causar turbulências mundo afora, inclusive no Brasil, e impactar o dia a dia dos cidadãos. O aumento do juro nos Estados Unidos costuma levar uma quantidade maior de dólares para casa. É a fuga do capital, especialmente de nações emergentes, para os títulos do Tesouro dos EUA, considerados os mais seguros do mundo e que passam a remunerar melhor. Em um movimento concomitante, mercados acionários desabam pela aversão ao risco. O mesmo se observa nos criptoativos, ainda mais voláteis.
A moeda brasileira é atingida em cheio. No final de maio, o câmbio estava um pouco acima de R$ 4,70. Ontem, alcançou R$ 5,13. Dólar alto, como se sabe, é causador de inflação no Brasil. E nesta quarta-feira também o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) decide a nova taxa Selic, hoje em 12,75% ao ano, e que deve subir mais 0,5 ponto percentual, de acordo com as expectativas predominantes. Como o resultado da reunião no Brasil sai depois de se conhecer o veredito nos EUA, o colegiado da autoridade monetária nacional ainda terá tempo de analisar a resolução norte-americana.
Talvez mais do que o quanto a Selic vai subir hoje, o mercado estará atento ao tom do comunicado do Copom. A dúvida é se o comitê mantém a porta aberta para novas altas ou se vai considerar o ciclo encerrado. As pressões inflacionárias, afinal, podem recrudescer pelo canal do câmbio. O petróleo é outra fonte de preocupação.
Segue em alta no mercado internacional, sem mostrar sinais de recuo. São os dois fatores que influenciam no preço dos combustíveis praticado pela Petrobras. Apesar do pacote de desoneração em tramitação no Congresso, corre-se o risco de os benefícios sequer serem sentidos pelo consumidor nas bombas. O corte abrupto de impostos, por outro lado, eleva as incertezas fiscais, o que certamente estará no radar do Copom, que pode ter de, ao menos, estender o período de juro nos patamares atuais, adiando cortes nas taxas.
O juro é o remédio amargo para a inflação por ter o efeito colateral de frear a atividade econômica e aumentar o custo do capital. Especula-se que os EUA possam entrar em recessão, o que nubla ainda mais o cenário global, inclusive para o Brasil. A complexidade da conjuntura deveria suscitar responsabilidade das lideranças políticas brasileiras, sob pena de se elevar a carestia para a população, após um alívio fugaz. Todos os indícios, no entanto, são de que governo e Congresso miram apenas os próximos meses, até as eleições, pouco se importando com as consequências. Enquanto isso, o BC vai enxugando gelo.
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