20 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
INFORMALIDADE E RENDA EM QUEDA
Superado o momento mais agudo da pandemia no país, o maior desafio dos governantes, dos administradores públicos e das lideranças do setor produtivo passa a ser o enfrentamento da queda de renda dos trabalhadores. Diante de um quadro que alia inflação persistente, juros elevados e precarização do emprego, a almejada recuperação econômica fica comprometida pela perda crescente do poder de compra dos brasileiros, que também gera efeitos colaterais alarmantes como a elevação para 33 milhões de pessoas do contingente que passa fome, segundo o último relato do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar.
O mais desconcertante deste cenário é a constatação de que a taxa de desemprego baixou para 10,5% no último trimestre, segundo o IBGE, o menor nível desde 2016. Porém, o mesmo informe demonstra que o rendimento médio da população em 2021 foi o mais baixo desde 2012. A queda nos rendimentos, mesmo com o aumento da população trabalhando, significa que os novos postos de trabalho criados têm menor remuneração.
Uma das razões apontadas pelos economistas para esta anomalia é a informalidade. Estima-se que de cada 10 trabalhadores brasileiros, quatro são informais - o que significa renda pouco estável e inexistência de reajustes anuais que acompanhem a inflação. Além disso, também contribuíram para a queda dos ganhos familiares o fim do auxílio emergencial pago no início da pandemia e as mudanças nos programas governamentais de transferência de renda.
A involução da renda familiar no Rio Grande do Sul acompanha a tendência nacional. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, divulgada na semana passada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a renda média no Estado atingiu o menor valor em 10 anos, passando de R$ 2.740 em 2012 (início da série histórica) para os atuais R$ 2.641. Em relação a 2020, a perda foi de R$ 93. A precarização do mercado de trabalho, a ainda elevada taxa de desemprego e a pressão inflacionária apontam para um cenário de grandes dificuldades nos próximos meses.
Por isso é urgente interromper essa trajetória - o que depende primordialmente de investimentos no capital produtivo. O círculo virtuoso do crescimento econômico é bem conhecido: mais empregos, maior consumo, aumento da produção e da produtividade, investimentos em educação, tecnologia e inovação. Para se chegar a ele, porém, não bastam apenas políticas governamentais de socorro social, ainda que tais ações sejam necessárias, especialmente quando parte da população depende delas para a própria sobrevivência, como ocorre atualmente com parcela expressiva de brasileiros.
Será possível virar esse jogo? Pode parecer pretensão ou ingenuidade projetar uma recuperação econômica do país no momento em que a guerra da Ucrânia, a crise dos combustíveis, a escassez de alimentos, o rescaldo da pandemia e a proximidade das eleições despertam mais preocupações do que esperanças. Mas é num ambiente desafiador que o empreendedorismo, a coragem e as ideias criativas encontram terreno fértil para prosperar.
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