11 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
BRASIL E EUA, ALÉM DO PESSOAL
O fato de o encontro bilateral entre o presidente Jair Bolsonaro e o seu par norte-americano Joe Biden ter transcorrido na quinta-feira de maneira meramente protocolar não deixa de ser, ao fim, positivo. Era corrente, inclusive na delegação brasileira que compareceu à Cúpula das Américas, o temor de algum tipo de constrangimento por uma possível cobrança mais dura por parte do ocupante da Casa Branca sobre temas como ambiente e democracia, que talvez suscitasse redarguição fora do tom recomendado.
A menção apenas genérica aos dois assuntos, motivo de preocupação nos EUA e de controvérsia no Brasil, evitou qualquer saia-justa, com declarações anódinas, embora Bolsonaro tenha novamente referido superficialmente suas cismas eleitorais. Mas seria ingenuidade imaginar que faltariam acenos à base ideológica e afirmações no mínimo questionáveis, como as relacionadas à preservação da Amazônia, repetidas em seu discurso, ontem. É verdade que o curto diálogo público foi morno, como se esperava, mas cordial e civilizado, com a institucionalidade e a diplomacia preservadas.
O receio se baseava essencialmente no histórico recente. Além de ser fã confesso de Donald Trump, Bolsonaro levantou desconfianças infundadas sobre as eleições norte-americanas e foi um dos últimos líderes mundiais a congratular Biden pelo triunfo nas urnas, o que naturalmente gera distanciamento. E Bolsonaro voltou a repetir as alegações às vésperas de embarcar para Los Angeles.
A frieza recíproca, entretanto, não impediu que Bolsonaro e Biden conversassem mais reservadamente logo após a aparição em conjunto transmitida ao vivo, com a presença também de auxiliares diplomáticos. O presidente brasileiro disse inclusive ter ficado "maravilhado" com Biden e concluiu que o saldo do encontro foi "melhor do que o esperado". Um distensionamento relevante, ao que parece, algo que também parece ter ocorrido no diálogo com o colega argentino Alberto Fernández na Cúpula das Américas. Conversas maduras têm o potencial de produzir resultados. Noticiou-se, por exemplo, que o mandatário brasileiro levou o tema das barreiras à entrada de aço brasileiro nos EUA, e Biden, receptivo, teria se comprometido a analisar a questão.
Provavelmente, Jair Bolsonaro e Joe Biden tenham em comum apenas as iniciais. Preferências pessoais, entretanto, são secundárias quando se ocupa cargo de elevada importância como a presidência de um país. Brasil e Estados Unidos têm longas relações diplomáticas e comerciais e o que se espera é que esses laços institucionais sejam reafirmados e fortalecidos. Possíveis próximos encontros ou diálogos entre os dois dependem do resultado do pleito de outubro do Brasil. Mas ambos são passageiros nas funções que ora ocupam, e o que fica e deve ser preservado é o vínculo histórico entra duas das maiores democracias do mundo.
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