quinta-feira, 2 de junho de 2022


02 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS

MUTIRÃO PELO ENSINO

As consequências de uma educação deficiente não são perversas apenas para o futuro dos estudantes que aprendem menos do que poderiam ao longo de sua vida escolar. Os efeitos deletérios se espalham e acabam por atingir toda a sociedade, de maneira direta ou indireta, na forma de maior criminalidade gerada pela desigualdade e pela formação de mão de obra pouco produtiva, o que limita a renda e diminui o potencial de crescimento da economia. Esses são apenas alguns exemplos.

Essa constatação reforça a certeza de que, especialmente no ensino público, onde se encontram as maiores dificuldades, a educação não é uma tarefa apenas do Estado. O desempenho de crianças e jovens das escolas geridas pelo governo gaúcho ou pelas prefeituras já era insuficiente, mostram as avaliações de aprendizagem periódicas. Agora, o acompanhamento tem confirmado o agravamento do quadro devido à pandemia, que manteve as salas de aula vazias por um grande período. Seja por limitações financeiras ou burocracia, a reação não ocorre na velocidade necessária.

Transformar essa realidade é uma incumbência que passa a ser de toda a sociedade. Portanto, deve ser saudado o lançamento do movimento Pacto Pela Educação, realizado na terça-feira, na Capital. Trata-se de uma mobilização colaborativa que se inicia com pessoas físicas inconformadas com a situação atual e dispostas a agir para ajudar a reverter o risco de um cenário de comprometimento do futuro da atual geração de estudantes. A proposta é reunir voluntários ou financiadores de iniciativas que tenham o potencial de mudar a perspectiva de escolas auxiliadas, contribuindo para uma melhor qualidade do ensino.

Há o comprometimento de, no prazo de 40 dias, ter traçadas as ideias de ação, para que as diretrizes possam ser, de fato, postas em prática. Entre as linhas gerais colocadas estão a valorização e a formação continuada dos docentes, com avaliação das consequências na aprendizagem, redesenho da governança na área de educação e a construção de novos ambientes que estimulem a absorção do conhecimento. Tudo, como ressaltam os responsáveis, sem colidir com a autonomia das escolas. O sentido é formar uma aliança para suplantar as dificuldades e necessidades existentes, trazidas pela própria rede.

O Pacto Pela Educação nasce no Estado com integrantes não necessariamente vinculados à área da educação. É composto também por empresários e líderes em outras áreas. A intenção é reunir mais cidadãos interessados em colaborar com esse verdadeiro mutirão por uma reviravolta nas perspectivas do ensino no Rio Grande do Sul. A mobilização da sociedade civil é poderosa. Mesmo que formado de maneira diferente, mas com espírito semelhante, o movimento Unidos pela Vacina é um exemplo recente de coalizão para minimizar os gargalos que poderiam atrasar a imunização contra a covid-19 no país, atuando na ponta, auxiliando os municípios.

Diagnósticos não faltam. É preciso partir para a aplicação das iniciativas propostas, o mais rápido possível. Urge começar a devolver a esperança a milhares de crianças hoje sob o risco de terem o futuro ameaçado. Integrá-las dignamente ao corpo social, forjando cidadãos aptos para os desafios do mercado de trabalho e conscientes de sua cidadania, também é a forma apropriada de combater a chaga da desigualdade e construir décadas mais prósperas à frente para o Rio Grande do Sul.

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