09 DE JUNHO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
NOVA CHANCE PARA O TRIGO
A cultura do trigo está diretamente ligada à profissionalização e à modernização da agricultura do Rio Grande do Sul, até iniciar o seu declínio, nos anos 1970. Várias das mais tradicionais cooperativas do Estado, por exemplo, têm o termo "tritícola" no nome, embora a soja tenha de longe tomado o lugar de carro-chefe dos negócios. Problemas de competividade, de comercialização e frustração de safras contribuíram para a redução da área cultivada nas últimas décadas. Mas uma série de fatores, agora, traz a expectativa de uma reviravolta consistente nessa trajetória, com o plantio do cereal voltando a ter relevância nas lavouras gaúchas.
De acordo com a Emater, os agricultores gaúchos plantarão neste ano 1,41 milhão de hectares de trigo, a maior área desde 1980. Confirmando-se a produtividade esperada, sempre um risco em função de questões climáticas, o Rio Grande do Sul poderia colher uma safra recorde de 3,9 milhões de toneladas.
A principal razão para este ímpeto é conhecida. O conflito no Leste Europeu envolve Rússia e Ucrânia, dois dos principais produtores e exportadores do grão no mundo. O conflito traz incertezas para o plantio, especialmente na Ucrânia, onde ocorrem as batalhas, mas também atrapalha, por sanções econômicas e dificuldades logísticas, o escoamento do produto. Vários outros países, com receio de desabastecimento, estão segurando exportações. O resultado óbvio é uma significativa valorização do trigo ao longo de 2022.
Surge, portanto, uma boa oportunidade para aproveitar este momento de mercado e, ao mesmo tempo, recuperar parte dos prejuízos decorrentes da estiagem que causou grande quebra nas lavouras de soja e milho ao longo do verão. Os preços dos insumos, como óleo diesel e fertilizantes, estão em patamares demasiadamente elevados. Uma boa gestão da lavoura, no entanto, é capaz de fazer da cultura de inverno uma alternativa lucrativa, e não apenas uma opção de importância agronômica na rotação de cultura e na diluição dos custos da propriedade.
Há várias alternativas para comercialização, como a panificação no mercado doméstico, o uso para a fabricação de rações animais e mesmo a exportação. Ao longo dos últimos anos, a tecnologia evoluiu e foram desenvolvidas novas cultivares mais adaptadas às peculiaridades climáticas do Estado. Graças à dedicação de gerações de homens e mulheres do campo, o Rio Grande do Sul se consolidou como relevante produtor nacional de grãos como soja e arroz, carnes e leite. Espera-se que o trigo, lavoura em que o Estado divide com o Paraná a liderança no Brasil, também se consolide como alternativa de renda para os agricultores gaúchos, de divisas para o país e, ao mesmo tempo, que safras maiores ajudem a garantir o abastecimento interno. Ganha a economia, enquanto se espalham ainda mais pela paisagem rural a beleza e o encantamento dos trigais dourados à espera da colheita.
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