18 DE JUNHO DE 2022
REPORTAGEM
SÓ UMA PASSADINHA NO MOTEL
Luciane Silveira de Vasconcellos, 51, é filha de taxista e começou a dirigir com 21 anos, no mesmo ponto da Saldanha Marinho com a Getúlio Vargas. Diferentemente de Criba e Mauro, ela não escreve os causos que ouviu no período. Quem os escuta são colegas, familiares e quem entra no seu táxi.
E o rol de passageiros inclui de palhaço montado que fez sinal na rua para parar o táxi ao ator Werner Schünemann. Não se preocupe, o carro não caiu no Arroio Dilúvio.
- Mas quase fui eu que caí, com aqueles olhos lindos - ela diz. A primeira história que conta é do dia que ela foi parar no motel com os passageiros. Apressa-se para explicar:
O homem, um cinquentão, sentou no banco da frente, e ela, no de trás: "Toca pro motel". Beleza. Fomos conversando, o pessoal tri despachado, e eu contei que estava apertada pra fazer xixi.
- Quando chegarmos lá, pode entrar - disse a mulher. - Posso? - Claro, guria.
Estacionei o carro na garagem do motel e subi com eles pro quarto. Fui lá, fiz xixi e voltei pra trabalhar. Depois ninguém acreditou que eu fiz isso.
Luciane também já fez vezes de detetive particular seguindo pistas de marido infiel. A passageira desconfiava que o cônjuge, açougueiro, sairia às 14h do trabalho para ir à casa da amante na Lomba do Pinheiro, e para lá foram.
Mas, numa sinaleira, o carro do homem para ao lado do seu, janela com janela. A mulher escorregou entre os bancos para não ser vista. E o telefone dela toca. Era ele, que olha desconfiadíssimo para Luciane.
- E eu bem plena, olhando pro céu, pro sinal - rememora. Chegando ao endereço, a mulher encontrou o carro do marido e "montou no porco". Queria destruir o veículo. Luciane disse que não se envolveria em violência e acabou convencendo a mulher a voltar com ela.
Mas a taxista não esconde a preferência por outro clássico: a corrida de bêbado.
Visualiza a cena: chego no meu ponto. Sabe o Bar do Alexandre? Chegando por ali, um senhor negro de muleta sem uma perna me faz um sinal. Pede para levar num boteco da Almirante Gonçalves.
Lá, o dono do bar começa a gesticular como que tocando cachorro, gritando: - Aqui não quero esse bêbado, pode sair daqui.
O passageiro me direciona a outro bar da Almirante. Mas nisso já pensei, não vou parar na frente, vou parar antes pra não tocarem o homem de novo.
A corrida deu R$ 7. Ele tinha uma bag ecológica atravessada no peito, enfiava a mão na sacola e tirava uma nota de R$ 2. Botava de volta, puxava a mesma a nota, enfiava e puxava de novo. Isso tudo muito devagar. Virou pra mim e disse:
- Ah, não vou te pagar. - O quê? Vai, sim, senhor.
Nisso o homem conseguiu tirar uma nota de R$ 10 e eu tomei da mão dele. A piada no ponto depois era que o bêbado foi assaltado pela taxista.
Hoje dona de um Voyage branco 2019, Luciane lembra de cada carro que já usou. O primeiro foi um Passat 1985, depois o mesmo carro ano 1986, um Fiat Prêmio 1995, uma Parati quadrada 1999, depois uma Parati redonda, um Fiat Siena, outro Fiat Siena. Sempre que troca de táxi, beija a lataria e agradece por tudo que passaram juntos.
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