15 DE JUNHO DE 2022
CARPINEJAR
Toca Raul e sua metamorfose ambulante
Eduardo Leite mudou de opinião e concorrerá à reeleição ao governo do Estado. O que não deixa de ser uma estratégia bem pensada. O tempo longe do cargo serviu para avaliar os cenários, fazer pesquisa e redimensionar as alianças.
Se ele não concorresse e fosse Ranolfo Vieira Júnior a cabeça de chapa, dificilmente o PSDB teria chances de uma coligação com o MDB, puxando Gabriel Souza como vice. É uma adaptação pessoal para a sobrevivência da sigla na corrida eleitoral.
Quem nunca quebrou uma promessa? Quem nunca pregou o amor eterno a uma causa, percebeu que ela estava equivocada e se arrependeu em tempo hábil? Que atire a primeira pedra.
Na família ou no emprego, estamos sempre em constante transformação. Não tem nada de golpe em sua atitude. Vou além: não vejo nenhuma incoerência no recuo de sua intenção.
É uma contradição venial, que qualquer um que pertença a um contexto plural experimenta. Não chega a fazer cócegas diante do passado volúvel do seu correligionário Fernando Henrique Cardoso, que alterou a Constituição para alcançar o pleito consecutivo. Ou podemos lembrar de outra frente, Tarso Genro (PT), que se dispôs a concluir o mandato de prefeito, mas saiu em um ano de exercício para concorrer a governador.
Ter uma única opinião por toda a vida é que representa um grande risco para a saúde emocional. Significa que você viveu pouco para ser testado pelo calor e pelas polêmicas dos acontecimentos. Mudar de opinião quando a vida muda é evoluir. Não mudar jamais de posição é teimosia, orgulho, doença.
A ignorância costuma ser enamorada de ideias fixas. Movimentos obsessivos como fascismo, nazismo e comunismo foram marcados pela intolerância, aparelhados ideologicamente pela segregação e pela tirania. Milhões de inocentes foram perseguidos, confinados e assassinados simplesmente por não concordar e por se opor a esses regimes.
Stalin, Hitler e Mussolini não piscavam, não contemporizavam, não davam um passo para trás. Não voltavam na sua loucura de dominação e de poder. Eram vítimas da insanidade parada, da monstruosidade da imobilidade mental.
Já a inteligência descende de nossa capacidade de nos adaptar, de assimilar desafios diferentes e respeitar a migração dos costumes e dos apelos do público.
Entendemos a acepção de coerência de uma forma distorcida: não sair do lugar nem trocar de juras.
As ideias são maleáveis, as opiniões são flexíveis; o que não pode ser renunciado é o caráter, são os princípios de um caráter. Porque envolvem lealdade, retidão e honestidade.
Se o político rouba e frauda licitações, está cometendo o maior dos erros: transgredindo o caráter.
Opinião não é caráter. E, cá entre nós, ser reeleito ao governo do Rio Grande do Sul é muito mais complicado e espinhoso do que ser presidente da República. Nunca aconteceu.
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