Churrasqueiro ou churrasqueira?

Porto Alegre quer tornar-se a capital do churrasco. Tradicional tarefa culinária masculina. Dia em que as mulheres descansam e os homens cozinham.

Será mesmo? Vamos ao exemplo de um casal.

Clarice faz a salada e põe a mesa com a farofa e demais acepipes. E, claro, sobremesa é com ela. Homem não entende de doce.

Geraldo sai para comprar as bebidas. Foi tão difícil achar as marcas que ele gosta, perdeu tanto tempo, que a Clarice teve que sair para comprar a carne. Como são muitos anos de casamento, ele já a ensinou quais os cortes e a aparência da boa carne. Ou foi o contrário? Nem eles lembram. Geraldo passará para conta dela a despesa com a carne, se não esquecer.

O primeiro ato dele é gelar a cerveja. Quanto ao fogo, esse é um detalhe embaraçoso. Geraldo só sabe fazer fogo com carvão e álcool gel em pastilha, aquelas cor-de-rosa. O pessoal do CTG soube e quase cassou a carteira dele. Ficou traumatizado. Agora é a Clarice quem acende.

Geraldo abre uma pilsen artesanal e segue a examinar os espetos. A Clarice se impacienta com o horário. Tanto que já tinha salgado e espetado. Ok, é tarde, Geraldo admite:

- Mas por acaso tem hora para comer num domingo?

Geraldo abre uma weiss sensacional para os amigos quando a Clarice chega com a caipirinha. Ela fez porque não é da cerveja. Os homens aceitam por educação. Afinal, já estão tomando Underberg com cachaça junto com a cerveja. Um bitter digestivo, importante para preparar o estômago para o que vem depois.

Chega o salsichão. A mulherada não aguenta de fome e fez antes. Aprontam também o coração de galinha e as coxinhas de frango que a Clarice deixou marinando. Tudo muito bom, mas não deixam o pobre Geraldo, que está bebendo com os homens, trabalhar. Elas ocupam o fogo com as entradas e com os espetos de legumes para os vegetarianos.

Ia esquecendo do lombinho. A Clarice faz um inigualável. Ela vai pondo queijo ralado, que gruda até formar uma crosta. Prevenido, Geraldo traz uma stout para harmonizar com a carne de porco.

Finalmente Geraldo vai para a churrasqueira. Até abre uma belgian ale para comemorar. Minutos depois, o motim. A mulherada reclama que ele queima a carne. Exagero, diz ele:

- Foi só uma tostadinha que ocorreu enquanto buscava mais cerveja.

Depois emenda: - A Clarice fez um fogo forte demais, dá para fundir ferro- gusa?

Clarice diz que o fogo era adequado. Geraldo se impacienta e diz:

- Então, faz tu.

Clarice assume o posto. Na cabeça de Geraldo seria trabalho dobrado. Antes era fazer, agora é supervisionar uma mulher fazendo churrasco. Fica em volta bebendo e palpitando enquanto ela termina e serve a todos.

Depois de tanto trabalho, é natural que Geraldo durma até a hora do futebol e que a mulherada limpe. Dia de folga para elas, não é?

MÁRIO CORSO

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