05 DE MARÇO DE 2022
OPINIÃO DA RBS
ECONOMIA E RESILIÊNCIA À PROVA
O IBGE apresentou na sexta-feira o desempenho da economia brasileira no quarto trimestre e, por consequência, o fechamento de 2021. De positivo, deve-se ressaltar que a performance entre outubro e dezembro foi levemente superior ao esperado, com um crescimento de 0,5% sobre os três meses imediatamente anteriores. Nada empolgante, mas deve ser celebrado ao menos o fato de o país ter deixado para trás a incômoda recessão técnica, caracterizada por dois trimestres consecutivos de retração da atividade. Surpreenderam positivamente, no encerramento do ano, indicadores relativos a consumo das famílias, investimento e agropecuária, que em nível nacional sofreu ao longo do ano passado por questões climáticas.
O PIB brasileiro de 2021, portanto, cresceu 4,6%, recuperando as perdas de 3,9% de 2020, ano em que o mundo todo sofreu com as maiores restrições de mobilidade causadas pela necessidade de conter a pandemia. O início da vacinação a partir dos primeiros meses do ano passado, entretanto, permitiu que o setor de serviços, responsável por cerca de 70% da economia nacional, avançasse 4,7%, puxando a atividade. O segmento, como se sabe, também foi o mais afetado pela crise sanitária, mas conseguiu recobrar forças a partir da maior segurança à circulação conforme a cobertura da imunização se ampliava.
Os números de 2021, no entanto, estão no retrovisor e o que se tem à frente é um 2022 desafiador. Grosso modo, a economia brasileira andou praticamente de lado nos últimos trimestres e inicia o ano com incertezas adicionais. Já se esperavam dificuldades causadas pela inflação persistente, alta do juro e turbulências eleitorais devido à expectativa de um pleito polarizado e tenso e aos riscos de medidas populistas fragilizarem o quadro fiscal, minando a confiança de empresários e consumidores.
O cenário, contudo, ficou ainda mais dramático pela eclosão da guerra no Leste Europeu. Com a disparada das commodities (minérios, energia e alimentos), a inflação pode se mostrar ainda mais forte. É uma perspectiva desanimadora frente à realidade nacional de desemprego alto e renda em queda. O juro alto possivelmente persistirá mais do que o esperado, encarecendo o crédito e freando o ímpeto do consumo e dos investimentos produtivos. Novas quebras nas cadeias globais de suprimento devido à guerra ampliam as incertezas, com reflexo na economia global. O gargalo no fornecimento de fertilizantes, essenciais para agricultura, acrescentou nuvens ameaçadoras ao setor mais competitivo do país. No Rio Grande do Sul, a estiagem dará um duro golpe no PIB local.
O consenso dos analistas do mercado financeiro ouvidos pelo Banco Central é, por enquanto, de uma variação de 0,3% do PIB do Brasil em 2022. Predomina o pessimismo, potencializado pelo conflito bélico - que, espera-se, seja solucionado o mais breve possível pela via da diplomacia.
Mas o ano recém está começando. Há, por outro lado, perspectivas favoráveis por investimentos em andamento ou contratados nas áreas de rodovias, energia, ferrovias e saneamento. No Estado, inclusive. Ter uma infraestrutura melhor é essencial para ganhar competitividade no futuro e dar mais qualidade de vida para os cidadãos. Commodities em alta, é preciso lembrar, também têm uma correlação positiva com a economia brasileira pelo fato de o país ser grande produtor de minérios, de alimentos e também ser relevante em petróleo. Se Brasília não atrapalhar demais, seria possível que a chegada de mais capitais ajudasse a segurar a inflação, via câmbio. A pandemia também pode estar mais próxima de ser controlada.
Empresários, agricultores, assalariados, informais e mesmo desempregados não têm alternativa. Se as dificuldades que surgem no horizonte assustam, não é com passividade que serão suplantadas. Os boletos, como se diz popularmente, não param de chegar. É preciso arregaçar as mangas, buscar colocação, inovar, prospectar oportunidades e mercados e ser mais produtivo, no campo e na cidade. O ano de 2022 será um teste duro para a resiliência dos brasileiros, e esmorecer não deve ser opção.
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