06 DE ABRIL DE 2021
NÍLSON SOUZA
TV Vaidade
A TV Justiça é um canal de televisão do Judiciário brasileiro administrado pelo Supremo Tribunal Federal. Graças a essa emissora, que começou a operar em agosto de 2002, os 11 ministros da Corte adquiriram tamanha visibilidade, que se tornaram mais populares do que os integrantes da Seleção Brasileira de Futebol - analogia mil vezes repetida, mas, na minha visão, um tanto inadequada devido à inamovibilidade dos magistrados e à transitoriedade dos atletas no nível de excelência exigido pelos treinadores e pelo público.
Inamovibilidade e transitoriedade são palavras perfeitamente compatíveis com a linguagem rebuscada que suas excelências costumam utilizar nas suas intermináveis exposições, muitas vezes enfadonhas, mas sempre qualificadas em matéria de conhecimento jurídico e riqueza vocabular. Como este texto também já está se tornando entediante, interrompo minha própria presunção e vou direto ao ponto: sou defensor da TV Justiça.
Reconheço que a telinha exacerba a vaidade de uns e outras, mas esse é um preço pequeno que a democracia paga pela transparência e pela prestação de contas de servidores públicos investidos de tanto poder. A publicidade é um princípio constitucional. E a Justiça, como parte da administração pública, tem que ser vista, ouvida e, de preferência, compreendida por todos, até para que os cidadãos também possam julgá-la.
Como julgadores dos juízes, podemos dizer que eles são vaidosos, exibidos, autoritários e até parciais. Às vezes dizemos até coisas piores. Mas só conseguimos exercer esse direito de avaliar e questionar os magistrados da Suprema Corte porque os vemos e ouvimos em atividade. Se as sessões fossem secretas, talvez tivéssemos que engolir o resultado dos julgamentos sem ao menos saber quem foram os responsáveis por eles e que justificativa deram para assim decidir. Seria como aquela reunião do primeiro escalão (e do baixo calão) do governo em que se tramava passar a boiada enquanto a pátria-mãe estivesse distraída.
Bendita TV Vaidade. Ela nos permite vigiar aqueles senhores e senhoras inamovíveis (mas não inaposentáveis) que divergem entre si, fazem malabarismos jurídicos para mudar o próprio voto, adotam decisões desconcertantes, mas cumprem às claras a árdua missão de dar a última palavra sobre os destinos da nação.
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