05 DE ABRIL DE 2021
EM TEMPOS DE PANDEMIA
8 passos para manter a resiliência
Psiquiatras afirmam que todo o ser humano já nasce com certa capacidade de encarar as adversidades de maneira positiva, e que ela pode ser moldada e reforçada ao longo da vida
Quando tinha 13 anos, o hoje psiquiatra, psicoterapeuta, palestrante e escritor Nelio Tombini, de Porto Alegre, precisou suportar a dor de perder o pai, aos 47, e os dois tios paternos no mesmo dia, num acidente quando se deslocavam para os funerais do irmão. No mesmo ano, buscou forças para superar um câncer. Aos 52, viu a mãe morrer num acidente de trânsito durante uma viagem ao litoral estimulada por ele. E apesar dos traumas, diz ter superado todas as dificuldades, aprendido e crescido com elas. Aos 72 anos, se considera um ser humano resiliente.
- O resiliente tem a habilidade de reconhecer a dor que enfrenta, absorvê-la, elaborá-la, sem buscar vitimizar-se. Mas resiliência não é uma qualidade que a pessoa tem permanentemente, precisa ser trabalhada diariamente - ressalta Tombini.
Equilíbrio
Para o psiquiatra Vitor Calegaro, professor da Universidade Federal de Santa Maria e idealizador da iniciativa RESILIEIGHT, resiliência é a capacidade de adaptação a situações adversas que ocorrem na vida. É uma forma de enfrentar as situações e, depois de um tempo, conseguir manter um estado de equilíbrio. Ela pode ser compreendida de duas formas: como um processo dinâmico e como características da personalidade.
Calegaro destaca que equivoca- se quem acredita que a resiliência é a pessoa passar por uma situação difícil e voltar ao que era antes. O tempo não volta:
- Resiliência é uma adaptação que ocorre depois de determinado evento de estresse. O tempo para esta recuperação, a rigor, seria breve, de dias ou semanas. Mas é impossível prever, porque depende de cada pessoa. Há quem se recupere rápido, mesmo enfrentando uma adversidade grave. Outros demoram. Alguns nunca se recuperam. Há pessoas, inclusive, que mesmo em sofrimento podem ser resilientes. Neste caso, se elas não fossem, sofreriam ainda mais.
Os dois especialistas afirmam que todo o ser humano já nasce com certa capacidade de resiliência, que pode ser moldada e reforçada ao longo da vida. A mudança, o fortalecimento e o amadurecimento surgem conforme os eventos vão ocorrendo. E eles, fundamentalmente, apontam os psiquiatras, precisam provocar desconforto no indivíduo, trazer certo incômodo - nada em demasia. Se os eventos na vida são pouco estressantes, quem os enfrenta pode não amadurecer.
- Não tem como viver a vida sem estresses. Passaremos por eles e aprenderemos a lidar com eles. E, justamente, esse lidar é que ajudará no amadurecimento. Freud já dizia que a frustração dá origem ao pensamento. As frustrações ao longo da vida fazem com que a gente tenha que achar saídas e encontrar maneiras adaptativas para lidar com as situações. Isso é resiliência - justifica Calegaro.
Tombini alerta também para o que ele chama de "resiliência fake". São pessoas que aceitam submeter-se, são concordinas, passivas, assumem tarefa dos outros, são pau para toda obra, com o objetivo de serem queridas e levarem vantagens nos ambientes em que circulam.
- Estes sujeitos correm um risco de adoecerem emocionalmente, através de somatizações, como, dor de cabeça, insônia, dores nas costas, abatimento, desânimo, absenteísmo etc. O imaginário acusa a falsidade e a conta chega para o resiliente fake - salienta Tombini.
Durante a pandemia de coronavírus, Calegaro ensina que é possível trocar a palavra resiliência por manter o equilíbrio na vida. Isso envolve, por exemplo, não se desgastar em conversas longas ou discussões sobre temas que não serão resolvidos em grupos de redes sociais. Para ele, é preciso, desde já, desenvolver a aceitação da situação e a compreensão de que isso faz parte do momento de introspecção e de reclusão.
- Agora, é preciso aceitar e não ficar lutando contra. É aquela frase: "aceita que dói menos" - finaliza Calegaro.
ALINE CUSTÓDIO
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