terça-feira, 1 de julho de 2025



01 de Julho de 2025
NÍLSON SOUZA

A ponte pichada

De todos os monumentos históricos de Porto Alegre, o que mais me encanta e emociona é a Ponte de Pedra do Largo dos Açorianos - por sua simbologia para a cidade e também por um motivo afetivo muito particular. Descobri outro dia, numa pesquisa genealógica sobre o ramo materno de minha família, que a referida passagem foi construída por meus tios trisavôs, sócios da empresa Baptista & Fialho, que prestava serviços para o governo da província no século 19.

Meus parentes Antônio Fialho de Vargas (considerado um dos fundadores de Lajeado) e seu irmão Manoel Fialho de Vargas Filho, juntamente com seu sócio João Baptista Soares da Silveira e Souza, também participaram da construção de outras obras marcantes para a cidade, como o Theatro São Pedro, o edifício Malakoff e a Sociedade Bailante, os dois últimos já demolidos.

Mas a ponte, apesar de sua aparente simplicidade arquitetônica e de há muito já ter perdido seu sentido utilitário de única ligação entre o Arraial (ou Areal) da Baronesa e o centro da Capital, tem múltiplos significados para os porto-alegrenses. O primeiro deles é que foi construída por ordem do Barão de Caxias, então presidente da província e futuro Duque de Caxias, conhecido na história do Brasil como O Pacificador. O segundo é que meus tios e meu trisavô Bernardino eram filhos de um açoriano da Ilha do Faial, o que dá ainda mais legitimidade à homenagem aos casais fundadores de Porto Alegre.

Quando o curso do Arroio Dilúvio foi desviado, em 1937, a ponte perdeu sua função original, mas se manteve como símbolo de uma época em que os habitantes desta cidade procuravam construí-la, sem o boicote das pichações que já fizeram a obra passar por inúmeros reparos, mesmo depois de ter sido tombada como monumento histórico do município, em 1979.

Os vândalos, na sua ignorância egocêntrica, até podem achar que aquela ponte liga nada a lugar nenhum. Enganam-se: ela liga uma província construída por imigrantes heroicos e seus descendentes a uma metrópole tão diversificada e acolhedora que abriga até mesmo aqueles que a depreciam com atos incivilizados. 

NÍLSON SOUZA

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