
31 de Julho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes
Trump rompe, em um só dia, com 200 anos de boas relações
Ao lançar dois petardos contra o Brasil no mesmo dia - a imposição de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes e assinar o decreto do tarifaço - Donald Trump rompe com 200 anos de boas relações diplomáticas com os Estados Unidos. É um ponto de inflexão histórico no diálogo bilateral e o momento de maior crise diplomática entre os dois países.
Geograficamente, o Brasil fica posicionado na área de influência dos Estados Unidos, potência hegemônica. Há o ônus e o bônus disso. A proximidade nos deixa suscetíveis às decisões da maior potência política, econômica e militar do planeta.
A relação entre EUA e Brasil é, historicamente, de aproximações e distanciamentos. Os EUA foram o primeiro país a reconhecer a independência do Brasil. Houve momentos de alinhamento, como o apoio ao golpe militar de 1964. No final dos anos 1970, o governo Jimmy Carter começou a pressionar o Brasil pela questão dos direitos humanos, e os EUA apoiaram a redemocratização. Os olhos da CIA estavam voltados para a eleição de 1989, como revelou ZH em reportagem que assinei com o repórter Carlos Rollsing.
Uma manobra típica do seu estilo: imprevisível, errático, teatral. O mesmo Trump que dizia precisar de "10 dias" para decidir se atacaria o Irã? e bombardeou no dia seguinte. Mentiu, como costuma mentir.
Trump não é liberal. Um liberal acredita no livre mercado, na globalização, no comércio como ponte entre nações. Trump prefere muros a pontes. Fecha os Estados Unidos para proteger seus próprios interesses - ou os de sua base eleitoral. Um dos argumentos usados agora é o de que o Brasil representa uma "ameaça à segurança nacional americana". Seria cômico, não fosse trágico.
O Brasil não representa qualquer risco real ao poder dos EUA. Ao contrário: é parceiro comercial e estratégico. Os americanos são o segundo principal destino das exportações brasileiras, e o Brasil, um dos maiores receptores de investimentos diretos americanos. A balança comercial é superavitária em favor dos americanos. A punição, portanto, não é técnica. É ideológica.
Estilo trumpiniano
A hostilidade de Trump é acompanhada pelo desprezo diplomático. O republicano não se dignou a nomear um embaixador para o Brasil. A chefia da embaixada americana em Brasília está vaga desde o final de 2024 - um sinal claro de desprezo ao relacionamento com o atual governo brasileiro.
Governos passam. Estados ficam. Mas rupturas como essa deixam rastros: empresas quebram, empregos são perdidos, vidas são afetadas. Que os quatro anos de Trump na Casa Branca sejam apenas um hiato negativo de uma relação que, por mais assimétrica que seja, sempre teve o diálogo como ponto de partida. _
Entrevista - Henrique Meirelles - Ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda
"Não vejo o Brasil ameaçando a economia americana"
Após o tarifaço de Trump, a coluna conversou com Henrique Meirelles, ex-presidente do Banco Central entre 2003 e 2010 e ministro da Fazenda do governo Michel Temer entre 2016 e 2018.
Como o senhor avalia o tarifaço?
É um confronto realmente muito sério. O Brasil é um dos poucos países que, de fato, recebe tarifa dessa magnitude. Ele (Trump) faz série de declarações em relação ao Brasil, que são questionáveis. (...) Para começar, o Brasil tem déficit comercial com os EUA. Acho que há motivação muito política. Mas o fato concreto é que temos de avaliar agora como compensar as exportações para os Estados Unidos (que agora devem ser enviadas) a outros países. Os EUA não são mais o maior parceiro comercial do Brasil. A China é. Temos de trabalhar, as empresas têm de trabalhar para redirecionar essas exportações. E diversificar a pauta de relacionamento econômico.
As justificativas americanas têm embasamento?
A princípio, não. Não vejo o Brasil ameaçando a segurança nacional e a economia americana. Ele deixa claro que tem motivação política. E aí, motivação política é questão de função política. Trump adotou um lado da política brasileira.
Como o senhor avalia o governo brasileiro?
Está trabalhando, o vice-presidente Geraldo Alckmin tem tentado. Mas o problema é que a situação está muito politizada. É a questão fundamental. E, principalmente, Trump trata como parte do governo brasileiro decisões do STF. Sabemos que não é governo. É independente, é essência da democracia. E ele (Trump) trata como se fosse parte do Executivo. São as ordens de um tribunal, que interpreta a lei da maneira que acha adequada. _
Onde estava Zambelli?
O imóvel onde a deputada federal licenciada Carla Zambelli (PL-SP) foi presa na terça-feira, na Itália, está localizado em uma área residencial de classe média alta em Roma. O apartamento fica na Via Borghetto di Vara, 13, no bairro Aurélia.
O local fica a aproximadamente cinco quilômetros da Praça de São Pedro e a oito quilômetros da Fontana di Trevi, icônico ponto turístico da capital italiana.
Os valores de aluguel em sites italianos variam: um apartamento de um quarto no endereço, por exemplo, custa R$ 9.640,21 (? 1.499 - na cotação da manhã de ontem). Há outro mais barato, no mesmo condomínio, por R$ 8.360,43 (? 1.300). No Airbnb, há promoção de R$ 3.129 para cinco noites, e outro anúncio por R$ 2.293.
Já os valores de venda são mais altos: uma unidade de três quartos no mesmo condomínio está à venda por R$ 2.115.831,90 (? 329.000). Outro, também de três quartos, porém um pouco maior, pela bagatela de R$ 2.636.751,00 (? 410.000). Há ainda um de dois quartos por R$ 1.639.930,50 (? 255.000).
O condomínio é novo e conta com área aberta, jardins e espaços de lazer. A região é rodeada de supermercados, centros esportivos e boa conexão com redes ferroviárias. _
Aplicação da Magnitsky
A Lei Magnitsky, aplicada pelo governo de Donald Trump ontem contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, não é uma novidade (leia mais na página 5). Em vigor desde 2017, a legislação americana já foi utilizada contra pelo menos 650 pessoas em todo o mundo, incluindo diversas personalidades de destaque.
Um dos primeiros casos emblemáticos ocorreu ainda em 2017, quando as sanções foram aplicadas ao empresário dominicano Ángel Rondón Rijo. Segundo o Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, órgão responsável pela implementação da lei, Rondón atuava como operador financeiro da empreiteira brasileira Odebrecht.
Entre as figuras relevantes que também foram alvo da Lei Magnitsky destacam-se o ex-presidente do Conselho Supremo Eleitoral da Nicarágua Roberto José Rivas Reyes, o deputado guatemalteco Julio Antonio Juárez Ramírez e o ex-presidente da Gâmbia Yahya Jammeh, que governou o país africano entre 1994 e 2017. A lista inclui ainda o ex-presidente paraguaio Horacio Cartes (2013-2018) e seu ex-vice-presidente Hugo Adalberto Velázquez Moreno (2018-2023).
Dados oficiais do governo norte-americano revelam que somente no ano de 2023 as sanções atingiram cidadãos de nove países diferentes. _
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