quinta-feira, 24 de julho de 2025



24 de Julho de 2025
INFORME ESPECIAL - Rodrigo Lopes

Este é o país da COP

O que mais se ouve, quando se fala na COP30, é que, pela primeira vez, em vez de só falar sobre a Amazônia, o mundo, realmente, conhecerá esse bioma. De fato, a floresta é um dos assuntos mais comentados e pouco conhecidos do planeta. Não é incomum o Brasil mesmo desconhecê-la e tratá-la como um bloco verde monolítico, ignorando a realidade de quem nela vive.

A ironia é que o Brasil da COP30 é o país que desrespeita os direitos básicos de quem mora na floresta. Na terça-feira, foi tornado público o brutal relato de uma mulher indígena da etnia Kokama, de 29 anos, mantida durante nove meses e 17 dias em uma cela mista na delegacia de Santo Antônio do Içá (AM). Ela afirma ter sido estuprada repetidamente por quatro policiais militares e um guarda municipal - inclusive com o filho recém-nascido ao seu lado.

É revoltante que uma denúncia dessa magnitude tenha sido mantida sob sigilo institucional por tempo tão prolongado. E não se trata de um caso isolado: o episódio se soma a um histórico de violência de gênero, abuso de autoridade e impunidade, sobretudo contra indígenas e mulheres em situação de vulnerabilidade.

O Brasil reivindica posição de liderança na luta contra as mudanças climáticas, mas falha vergonhosamente em proteger as minorias em seu território. Que tipo de credibilidade internacional pode ter uma nação que permite estupros coletivos contra indígenas pela polícia? Ou que defende o planeta, mas falha no plano doméstico?

Não há combate climático genuíno sem coerência entre discurso externo e políticas públicas internas. Defender a Amazônia também significa cuidar de quem vive nela - não só utilizá-la como vitrine. _

Gaza feita por IA

A ministra da Inovação, Ciência e Tecnologia de Israel, Gila Gamiliel, comete o mesmo erro que Donald Trump: usa a inteligência artificial para criar uma imagem deturpada da Faixa de Gaza.

Emulando um vídeo já propagado pelo americano, a ministra, que pertence ao partido Likud, do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, postou cenas fakes do que seria o território palestino transformado em uma "Riviera do Oriente Médio". Junto das cenas, o texto: "É assim que Gaza será no futuro. Migração voluntária de moradores de Gaza somente com Trump e Netanyahu. Somos nós ou eles!". Não fica claro quem são "eles" - se os terroristas do Hamas, o povo palestino ou partidos moderados de Israel.

Assim como Trump, a ministra ignora o único projeto viável, justo e potencialmente pacífico para o Oriente Médio: a solução de dois Estados, Israel e a Palestina. Isso passa pela eliminação do Hamas, pelo fortalecimento das vozes moderadas e pela renovação de lideranças palestinas. Mas, definitivamente, não será por um processo de deslocamento de população, o que só gera mais ódio e violência.

Também ontem, os embaixadores palestino e israelense se acusaram mutuamente no Conselho de Segurança da ONU. Riyad Mansour, pela Palestina, questionou o que a comunidade internacional deveria dizer à população de Gaza que morre de fome. Por sua vez, o embaixador de Israel, Danny Danon, acusou o Hamas de usar o sofrimento dos palestinos como propaganda. Mais de uma centena de organizações humanitárias alertam sobre o drama da fome em massa em Gaza. _

Entrevista - Cintia Gonçalves - Fundadora da consultoria Wiz&Watcher e sócia da Suno United Creators

"Mais do que as anteriores, a geração Z trabalha para viver"

Uma pesquisa recente traçou a relação da geração Z e o futuro do mercado de trabalho. A coluna conversou com Cintia Gonçalves, que liderou a Should I Stay or Should I Go? Paradoxos e Referências da Gen Z sobre Liderança.

O que a Gen Z está buscando?

Fizemos um exercício interessante: pedimos que buscassem imagens para simbolizar o que seria importante no futuro do trabalho. E trouxeram imagens que têm a ver com equilíbrio de vida, com colaboração. Eles já olham modelos organizacionais e também a ideia de aprendizagem diferentes. Diria que, se conseguirmos engajar essa geração com o mundo do trabalho, será por meio da aprendizagem. Eles sabem, como nenhuma outra geração, que precisam aprender e reaprender todos os dias. E as empresas e as lideranças deveriam ser fonte nesse processo.

O que procuram no emprego?

Aqui no Brasil temos a questão de valorizar a estabilidade no emprego. Muitas vezes, esse jovem está trabalhando para contribuir financeiramente com a família ou, muitas vezes, é o primeiro que está formado, que está trabalhando em emprego formal. Por outro lado, para o futuro do trabalho, as lideranças humanizadas serão as grandes lideranças. Já temos acesso à tecnologia, à inteligência artificial, e o diferencial não está no modelo da produção, o quanto eu produzo durante o dia... As skills emocionais ganham muita força nesse novo cenário. E a geração Z e as outras também começam a valorizar essa liderança que ouve, escuta, aprende, ensina, que é mais humana.

Como enxergam o sucesso?

Nós, das gerações mais velhas, sinalizamos um modelo de sucesso que não faz mais sentido. Aquelas imagens da pessoa subindo degraus e montanhas e chegando lá sozinha, é sucesso para as anteriores. Para essa, não. Eles trazem imagens de colaboração no processo. Esperam trabalho, sim, mas um equilíbrio na vida e foco na aprendizagem. Além, obviamente, do sustento e dos bens materiais. Muito mais que gerações anteriores, que viveram para trabalhar, essa geração trabalha para viver.

O que procuram em um chefe?

Nas cinco edições do estudo, mantivemos uma pergunta: "Se você tivesse de escolher um personagem que representasse o líder do futuro, quem escolheria?". Primeira edição, há seis anos, foi o personagem Homem de Ferro. Diziam: "O bom líder será aquele que vai dominar a máquina". No ano seguinte, o professor da Casa de Papel. Na série, o personagem convoca um grupo de assaltantes para roubar um banco e, na verdade, não era simplesmente pelo dinheiro, tinha um propósito e conseguiu reunir um time que individualmente jamais conseguiria. No ano seguinte, o professor Xavier do X-Men, a pauta da diversidade e representando um líder que conseguia trabalhar com um time diverso. Depois, Ted Lasso, que é um líder muito humanizado, que muitas vezes não domina as regras e as técnicas, mas é super habilidoso com as skills emocionais. Este ano não teve um consenso tão fácil. Trouxeram a personagem Alegria do filme Divertidamente, dizendo que o líder do futuro terá de saber conhecer e lidar com as próprias emoções, e conhecer e lidar também com as emoções do seu time.

E o futuro da Gen Z gaúcha?

Primeiro, questionamos que desafios os jovens gaúchos, que já são líderes, observam: dizem que queriam mais tempo para desenvolver a equipe, ensinar mais. Nesses atributos, o jovem gaúcho está acima da média do jovem brasileiro. O segundo ponto se refere ao fato de que, quando perguntamos o que será importante para o líder do futuro, trazem liderança humanizada, percepção do impacto que a empresa e as atitudes deles terão em relação ao meio ambiente, a importância de gerenciar conflitos e lidar com momentos de crise. É perceptível que esse jovem sofreu um impacto importante que foi a enchente. Esses contextos econômicos, sociais, políticos e ambientais impactam muito os modelos de liderança. E parece que temos um desejo de uma liderança mais humanizada, que seja preocupada com o outro, com o impacto ao redor, mais do que em outras regiões do Brasil. _

INFORME ESPECIAL

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