quinta-feira, 31 de julho de 2025


30 de Julho de 2025
OPINIÃO DA RBS

Empenho máximo para negociar

Resta pouco tempo para tentar evitar a entrada em vigor do tarifaço de Donald Trump contra o Brasil. São horas decisivas até a sexta-feira, 1º de agosto, quando - salvo alguma reviravolta - deve começar a valer a taxação de 50% sobre as exportações do país para o mercado norte-americano, a mais alta até agora imposta pela Casa Branca aos seus parceiros comerciais. Com a aproximação do prazo fatal, é dever do governo brasileiro, e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em primeiro lugar, se empenhar ao máximo para reverter a medida. Ou ao menos trabalhar para conter os estragos, com as opções de diminuir a magnitude da oneração, reduzir a quantidade de produtos afetados ou, ainda, adiar a cobrança e prosseguir com novas negociações.

Apesar da manifesta má vontade de Trump com o Brasil e da distância política entre os dois presidentes, Lula deve deixar em segundo plano o risco de descortesia em um contato direto com o mandatário norte-americano. Se existir a possibilidade, caberia a tentativa de um telefonema para esclarecimentos e para aparar as arestas possíveis, desde que os termos de qualquer conversa não resvalem para a interferência na soberania do Brasil e na separação dos poderes, cláusula basilar de democracias saudáveis e funcionais.

A chantagem de Trump sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro ou decisões do Judiciário que contrariem as big techs deve continuar fora da mesa de negociação. Mas insistir no diálogo até o último momento sobre temas comerciais e econômicos não significa perder a altivez. Em caso de inflexibilidade, Lula pode ao menos sustentar a versão de que tentou o que estava ao seu alcance, apesar da verborragia desnecessária das últimas semanas, voltada a capitalizar politicamente a ameaça de Trump, que por certo não colaborou para acabar com o impasse. Ambos os presidentes já mencionaram a chance de conversar.

É preciso aproveitar os espaços surgidos nas últimas horas que dão a perspectiva de avançar de alguma forma em tratativas e evitar o pior. Em entrevista a uma emissora de TV, na terça-feira, o secretário do Comércio dos EUA, Howard Lutnick, declarou que produtos básicos não produzidos em solo norte-americano poderiam ter tarifa zero. Não citou nenhum país especificamente, mas seria o caso do café brasileiro, por exemplo. 

É um sinal de maior racionalidade. Resta esperar saber se o Brasil estaria incluído nessas exceções ou se as motivações ideológicas no confronto com o Brasil seguem se sobrepondo. Noticia-se também que o governo Lula estaria, em um primeiro momento, centrando os esforços para eliminar as novas barreiras a alimentos e às aeronaves da Embraer. Sabe-se ainda que o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Geraldo Alckmin, conversou novamente com Lutnick na segunda-feira, após um contato inicial, no dia 19.

O resultado de negociações com o Japão e a União Europeia, com a fixação de tarifas de 15%, demonstra que os EUA seguem irredutíveis aos argumentos de que só há perdedores com as barreiras comerciais. Resta ao Brasil ser pragmático e buscar arrancar um acordo nos melhores termos possíveis para minimizar os prejuízos à economia nacional. 

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