
Disputa entre Trump e Brasil deve gerar reflexos na COP30
Sentado em um dos anéis do Estádio Olímpico de Baku, no Azerbaijão, sede da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29), no ano passado, ouvi de um experiente diplomata brasileiro que 2025 seria um ano complexo nas relações internacionais. Donald Trump voltaria à Casa Branca dali a dois meses, e, naquele dia, Javier Milei havia retirado a delegação argentina da cúpula.
Obviamente, ninguém precisava de bola de cristal para prever um ano tenebroso: o retorno de um negacionista climático ao comando do segundo maior poluidor mundial, a promessa de retirada dos EUA do Acordo de Paris (que deve se confirmar em 2026), as duas guerras em andamento, entre Israel e Hamas e entre Rússia e Ucrânia, e o crescimento da extrema direita na Europa, faziam os negociadores acelerar acertos antes da chegada da tempestade perfeita. Não havia ainda a guerra com o Irã no cenário e muito menos a chantagem em forma de tarifas extras ao Brasil e a outros aliados - até ali parecia apenas que a China era o alvo.
Etanol e desmatamento
Agora, a quatro meses da COP30, a disputa entre Trump e Brasil pressiona a conferência de Belém. Do saco de argumentos pouco realistas do americano para justificar a investigação comercial, dois deles são ambientais: o etanol brasileiro e o desmatamento ilegal. O tarifaço também faz aumentar a preocupação sobre o custo de produção - e investimentos em energias limpas costumam ser um dos primeiros itens cortados pelos diferentes setores econômicos. Em um cenário de vasos comunicantes, o aumento dos gastos militares por países da UE, por exemplo, também fará falta na outra ponta, o que torna quase impossível alcançar a meta dos US$ 1,3 trilhão (R$ 7,2 tri) em financiamento climático. _
Paris e o legado das Olimpíada de 2024
Enquanto no Brasil há obras não finalizadas ou que sequer saíram do papel na Copa de 2014, em Paris a população aproveita o legado das Olimpíadas de 2024: o Rio Sena despoluído. Com o forte calor na Europa em julho, parisienses se banham próximos da Pont Marie, um dos três locais abertos para natação. Nos Jogos, nadadores e triatletas competiram no local. _
Documentos sigilosos sobre Martin Luther King
Os EUA divulgaram segunda-feira documentos sigilosos sobre o assassinato de Martin Luther King Jr., em 1968. A divulgação envolve 230 mil páginas e foi anunciada pelo Departamento de Justiça. Os materiais incluem possíveis pistas do caso e informações de James Earl Ray, antigo companheiro de cela de King que se declarou culpado pelo assassinato, mas depois retratou-se, mantendo sua inocência até sua morte, em 1998.
Em março de 2018, Trump liberou documentos sigilosos sobre o assassinato de John F. Kennedy, incluindo registros que revelavam que os EUA monitoravam as relações da China e de Cuba com o ex-governador do RS Leonel Brizola. Os documentos podem ser achados no site do Arquivo Nacional Americano. _
CNBB rejeita nova legislação ambiental
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e 10 organizações eclesiais brasileiras publicaram nota intitulada "O cuidado com a Casa Comum é a nossa causa comum". Nela, manifestam oposição ao projeto de lei aprovado que modifica as regras do licenciamento ambiental no país.
As entidades classificam a medida como "grave retrocesso na política ambiental", argumentando que as regras "desestruturam princípios consolidados de proteção ambiental, enfraquecem o licenciamento, fragilizam o controle público e ameaçam territórios". _
Entrevista - Maria Belen Losada - Head de Produtos de Carbono do Itaú Unibanco
"O Brasil não está acostumado a comprar créditos de carbono"
Uma das principais especialistas em mercado de carbono no país, Maria Belen Losada participa, amanhã, da série Diálogos Sustentáveis, promovida pelo Instituto Latino Americano de Desenvolvimento Econômico Sustentável (Ilades).
Como está a regulamentação do mercado de carbono no Brasil?
Em relação à lei, aprovada no ano passado, vai demorar cinco anos para estar em vigência. Neste e no próximo ano, o governo trabalha na regulamentação. Estamos de olho em quais metodologias serão aceitas e o tipo de crédito. O governo tem a intenção de criar o próprio padrão de crédito para o mercado brasileiro. Mas entendemos que, como são processos que demoram muitos anos, precisaremos utilizar metodologias internacionais que existem e que já são aplicadas há mais de 20 anos. Um terceiro ponto importante é a autorização para exportação de créditos.
Empresas no Brasil estão se engajando nesse mercado?
Há poucas companhias. A Petrobras é a mais ativa e já começa a pensar nos créditos para a sua própria compensação. A Vale tem um programa. As entidades financeiras compram. Todos nós, os bancos, somos bem ativos em comprar e em compensar nossas emissões. A Natura tem seus projetos, e mais três ou quatro companhias emblemáticas. O Brasil não é um mercado acostumado a comprar créditos de carbono, mas tem histórica geração de créditos.
Após tantos anos de debate, há otimismo ou desânimo?
O mercado do carbono é desafiador. Somos otimistas incuráveis. Já houve épocas em que o assunto estava mais em moda, e agora tem caído um pouco em nível mundial. No Brasil, demorou muito para que houvesse essa lei. Temos dois anos de regulamentação. Depois, é preciso avaliar como as companhias farão a mensuração dessas emissões. O Brasil escolheu fazer planos setoriais, para tentar equilibrar melhor. Talvez o Brasil escolha um caminho mais longo, mas será mais justo, ou mais apropriado para a nossa economia. Tenho a impressão de que o Brasil faz bem em não incluir o agro no sistema regulado, mesmo que este seja um setor responsável por grande parte da emissão. Porque não é comparável a emissão do agro com a da indústria. A emissão da indústria é muito mais mensurável. No agro, não.
Qual é a sua expectativa para a COP30?
Para o Brasil, colocar a natureza nas discussões é importante. Não tem como falar de descarbonização sem falar de transição energética, mas também de floresta, da importância da conservação e de agro sustentável. O Brasil tem oportunidade de colocar esses assuntos na agenda. Em relação aos EUA, pode ser que o país esteja mais ausente, mas vejo que há maior protagonismo no setor privado. O mundo corporativo reconhece que esse é um problema que não vai sumir, que a gente vai ter de lidar com ele nas próximas décadas. Um governo de quatro anos pode atrasar o debate, mas o problema não vai sumir. Vai continuar ali. _
Nove ex-ministros de pastas de Justiça e Segurança nos governos FHC, Lula, Dilma e Temer assinaram carta repudiando ações de Donald Trump sobre o julgamento de Jair Bolsonaro.
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