sexta-feira, 18 de julho de 2025


18 de Julho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Lula tem de fechar a porteira para a mãe das boiadas

Como todas as maldades, a "flexibilização das regras ambientais" aprovada no Senado em maio passou na Câmara dos Deputados na calada da noite (com perdão do clichê, que o é por bom motivo). O projeto, alertam entidades ambientais e cientistas, implode o marco ambiental do Brasil no ano em que o país vai abrigar a COP30, a Conferência das Partes ou Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU).

Agora, com a mesma coragem de enfrentar legislações contrárias ao interesse do país, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá de fechar a porteira para a mãe de todas as boiadas, ou seja, vetar o projeto de lei. O veto poderá até ser derrubado, mas esse foi o presidente saudado na COP27 como representante de um Brasil que havia voltado à defesa do ambiente. Ao menos, Lula poderá circular pelos corredores da COP de Belém com menos constrangimento. Aos brasileiros que creem no potencial econômico da bioeconomia e da atividade regenerativa, restará maior vigilância na hora da eleição de seus representantes no Congresso.

"O mais grave retrocesso", conforme SBPC

Às vésperas da votação, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) apresentou um manifesto contrário às mudanças. A entidade afirma que o projeto representa "o mais grave retrocesso do sistema ambiental do país" desde a redemocratização. Além de enfraquecer as regras e os mecanismos de análise, controle e fiscalização, ignora a emergência climática que a humanidade enfrenta hoje.

"Quatro biomas brasileiros (amazônia, cerrado, pantanal e caatinga) estão muito próximos do chamado ponto de não retorno", alertam os cientistas no manifesto. O pampa, predominante no RS, não está entre os biomas ameaçados, mas isso não significa que o Estado esteja fora de risco. O ponto de não retorno da Amazônia pode ter forte impacto na atividade econômica gaúcha.

O físico Paulo Artaxo, cientista do IPCC (painel climático da ONU), avalia que o projeto muda para pior:

- O licenciamento é o instrumento que o Estado tem para proteger os bens públicos: nossos rios, florestas e o ar que respiramos. _

A manutenção parcial do aumento do IOF não fez preço no mercado ontem. O veto à incidência sobre operação de "risco sacado", usado para fugir do juro alto, era esperado. O dólar recuou 0,27%, para R$ 5,547, a bolsa variou 0,04%.

Cade aprova negócio que muda dono do polo gaúcho

Em novo avanço, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou, sem restrições, o negócio que pode dar ao polêmico empresário Nelson Tanure o controle da Braskem - logo, da maior parte do polo petroquímico gaúcho.

Em nota, a Braskem informou o novo avanço ontem. Conforme a companhia, a superintendência-geral do Cade decidiu pela aprovação, sem restrições, do "ato de concentração relativo à potencial transação envolvendo as ações de emissão da NSP Investimentos".

Para explicar e lembrar: a NSP é a controladora da Novonor (ex-Odebrecht), por sua vez empresa que tem hoje a maior parte das ações da Braskem. Formalmente, essa companhia repassaria a maior parte de sua atual fatia de 38,3% para o Petroquímica Verde Fundo de Investimento em Participações. Trata-se de um instrumento de investimentos de Tanure, que se tornaria, então, "titular indireto de participações societárias que representem o controle da Braskem".

Com a aprovação do Cade, ainda faltam pontos a vencer para o fechamento efetivo do negócio. Um é o acerto com a Petrobras, que é sócia relevante da Braskem com cerca de 36% das ações. A estatal tem acordo de acionistas com a Novonor que lhe dá direito de preferência de compra em caso de venda. Outro é o encaminhamento para o passivo da Braskem em Alagoas, hoje estimado em R$ 18 bilhões. _

Exportação do RS travada por Trump

Uma exportação para Porto Rico de móveis fabricados em Bento Gonçalves está paralisada por conta do tarifaço de Donald Trump. Os contêineres são da Multimóveis e estão parados na serra gaúcha.

Como Porto Rico é um território dos EUA, os produtos brasileiros que entrarem lá a partir de 1º de agosto serão igualmente taxados em 50%, relata à coluna o dono da Multimóveis, Euclides Longhi, também presidente da Associação das Indústrias de Móveis do Estado (Movergs).

- Temos dois contêineres para Porto Rico que o cliente já mandou segurar. Ele disse: "Não embarca até clarear o que vai acontecer, porque eu não posso pagar 50% a mais".

Segundo o empresário, os EUA são o principal destino das indústrias gaúchas de móveis, com 16% das exportações. Há empresas, como a Politorno, em que o percentual chega a 40%, afirma Longhi. _

Por que o Pix incomoda os EUA

Uma das inovações tecnológicas mais disruptivas e bem-sucedidas do Brasil virou alvo de acusação de "prática desleal" pelos EUA de Donald Trump. Em junho, o Pix movimentou R$ 2,9 bilhões por 168 milhões de pessoas.

Conforme dados do Banco Central (BC), o Pix assumiu a liderança entre os meios de pagamento no Brasil ainda no terceiro trimestre de 2023. Desde então, só aumentou a distância para a segunda forma mais usada, a de cartões em geral (crédito, débito e pré-pago). Portanto, deixou para trás bandeiras de origem americana como Visa, Mastercard e American Express.

Além disso, a rápida adesão ao Pix eclipsou outras tentativas de pagamentos via redes sociais. Pela alta penetração da ferramenta por aqui, o plano do WhatsApp era começar pelo Brasil um sistema para enviar e receber dinheiro. O instrumento da atual Meta de Mark Zuckerberg - um dos donos de big techs presentes na posse de Trump - foi atropelado pelo sistema do BC, como a coluna registrou ainda em 2020. _

GPS DA ECONOMIA

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