terça-feira, 22 de julho de 2025


22 de Julho de 2025
OPINIÃO RBS

Preparado para o pior cenário

A escalada da tensão entre Brasil e Estados Unidos eleva as chances de que de fato entrem em vigor as tarifas de importação de 50% impostas pelo presidente norte-americano, Donald Trump. A percepção de que a Casa Branca pode mesmo implantar a cobrança adicional a partir de 1º de agosto também decorre da inexistência, até agora, de qualquer negociação aberta entre os governos. A despeito da imprevisibilidade típica de Trump e da fama que ganhou de blefar para obter acordos em melhores termos, a ausência de diálogo diplomático reforça a certeza de que a medida nada tem de comercial, tratando-se apenas de chantagem política, o que dificulta ainda mais a costura de uma conciliação baseada na racionalidade.

Diante desse cenário, espera-se que, como revelou ontem o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, o governo esteja elaborando medidas robustas para apoiar as empresas afetadas pelo tarifaço. Passa a ser necessário estar preparado para todos os cenários, inclusive o mais pessimista. Conforme o ministro, as alternativas serão apresentadas nesta semana ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Rio Grande do Sul é um dos principais interessados em uma solução. Na hipótese de as tarifas proibitivas serem praticadas, as empresas gaúchas necessitarão de um instrumento consistente que limite o impacto em suas atividades, com reflexo nos empregos. Estudo publicado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), na semana passada, mostrou que o Estado é a segunda unidade da federação mais afetada pelo tarifaço, atrás somente de São Paulo. A perda de PIB poderia chegar a R$ 1,9 bilhão. Cerca de 22 mil postos de trabalho estão de alguma forma expostos à iniciativa extorsiva da Casa Branca. O Rio Grande do Sul é superavitário no comércio com os EUA, ao contrário do país.

A postura que o Brasil deve manter frente às ameaças e à tentativa de ingerência é a de equilíbrio entre firmeza para rechaçar a intimidação e comedimento para não acirrar mais os ânimos, perseverando na abertura de um canal de diálogo. Devem ser esgotadas todas as possibilidades de negociação e só em último caso pensar em retaliações, avaliando-se criteriosamente as possibilidades contidas na recém-regulamentada Lei da Reciprocidade. Responder com tarifas a produtos americanos não é o mais inteligente, pelo risco de significar inflação. É essencial angariar o apoio de importadores e de empresas norte-americanas para demonstrar que o bloqueio comercial que aconteceria na prática também seria prejudicial à economia e ao consumidor dos EUA.

Os esforços para abrir negociações, porém, dependem também de moderação na retórica. O ataque dos EUA - por motivos como o processo contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) para regular big techs ou a reação ao Brics - serviu como ajuda para Lula recuperar parte de sua popularidade, com a bandeira da defesa da soberania. O petista, assim, ganhou fôlego eleitoral. Mas acima dos próprios interesses deve estar a busca por uma solução para o impasse, em nome da economia brasileira e dos empregos. Discursos de palanque, neste momento, tendem a dificultar ainda mais o diálogo. 

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