quinta-feira, 31 de julho de 2025


31 de Julho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo

Tarifaço tem efeito líquido menos ruim do que se temia

A Casa Branca oficializou com muitas horas de antecedência o tarifaço de 50% contra o Brasil. Mas teve até boa notícia: entra em vigor no dia 6 de agosto (em vez do dia 1º) e há 694 exceções. Estão livres do tarifaço desde alguns produtos para o café da manhã dos americanos até aviões da Embraer, que usam 40% de componentes americanos. Como resultado, as ações da empresa decolaram 11% na bolsa.

Estimativa preliminar do economista e consultor André Perfeito é de que cerca de 42% do valor exportado para os EUA em 2025 está nas exceções. No mercado, há projeções de que até 60% do valor em dólares estaria livre de tarifaço.

Os produtos da lista de exceção não terão alíquota zero, como chegou a acenar o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick. Ficam sujeitos à tarifa padrão de 10% que está em vigor desde 2 de abril.

A leitura de que a carga política do tarifaço foi maior do que a econômica é chancelada pelo mercado: o dólar, que havia chegado a R$ 5,62 durante o dia, moderou a alta e fechou a R$ 5,59. O Ibovespa, que caía, voltou a subir, encerrando em alta de 0,95%.

Isso não significa, porém, que o tarifaço não terá impacto. A indústria de calçados não ficou entre as exceções, e a alíquota de 50% vai inviabilizar a venda de sapatos feitos no Brasil para os Estados Unidos.

Para o Rio Grande do Sul, houve duas más notícias: calçados e carne ficaram fora da extensa lista de exceções.

- Tem muitos setores afetados, toda a parte de alimentos, toda a parte industrial. Em número de itens, os atingidos são maioria - avalia Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior.

Chama atenção a falta de uma lógica clara na lista de exceções. Seria de se esperar que tivessem sido liberados produtos que pudessem provocar prejuízos à economia americana, mas isso não se confirma: o suco de laranja se livrou do tarifaço, mas o café, não.

- Não tem lógica. Os que conseguiram fazer lobby lá há tempo, como suco de laranja e celulose, até a Embraer, foram excluídos. O resto foi atingido pelo tarifaço - avalia Barral.

Para os produtos afetados, o comunicado traz uma informação importante: a tarifa de 50% não é adicional aos 10% já em vigor, mas complementar. Por isso o texto do decreto menciona 40%. _

Empresa americana quer investir US$ 100 milhões no RS

Será assinado hoje um termo de engajamento (documento que formaliza um compromisso entre partes) entre a Invest RS e a americana Cemvita. Com investimento que pode chegar a US$ 100 milhões (R$ 560 milhões pelo câmbio atual), a empresa planeja instalar uma unidade de produção de óleo de baixo carbono derivado de glicerina bruta.

Esse produto costuma ser utilizado como matéria-prima na fabricação de combustível de aviação sustentável (SAF na sigla em inglês), em parceria com a gaúcha Be8. A unidade também produzirá biofertilizantes.

Um dos motivos da escolha do Rio Grande do Sul é exatamente a disponibilidade de glicerina, subproduto da produção de biodiesel. A Cemvita aponta ainda o histórico do Estado em políticas públicas de baixo carbono. A ambição é construir aqui primeira planta do mundo a operar em escala industrial utilizando a tecnologia de bioconversão.

O "termo de engajamento" vai formalizar a relação entre a Invest RS e as empresas. Pela Cemvita, participam o CEO, Mojo Karimi, e o diretor de estratégia e desenvolvimento de Negócios, Fernando Borba, que é gaúcho.

A Cemvita utiliza a biologia sintética para transformar emissões de carbono em produtos químicos de base biológica de alto valor. Produz óleos sustentáveis e outros insumos essenciais para indústrias como aviação, cuidados pessoais e agricultura. Em parceria com grandes corporações globais, oferece soluções para os desafios climáticos. _

"Sentença de morte financeira" comutada

A confirmação da aplicação da Lei Magnitsky pelo governo dos Estados Unidos contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes tem, potencialmente, efeitos bastante graves, que fazem com que essa medida seja apelidada de "pena de morte financeira".

Mas o Tesouro restringiu a sanção a duas consequências explícitas: bloqueio de todos os bens em território americano e de qualquer negócio ou propriedade em que tenha mais de 50%. E Moraes não tem nem conta nem propriedades nos EUA. Se ficar nisso, a "sentença de morte financeira" contra Moraes pode ter sido comutada.

A Magnitsky permite bloqueio de acesso ao sistema financeiro americano, de contas a cartão de crédito. Isso significaria não poder usar algumas das bandeiras mais famosas e quase onipresentes, como American Express, Mastercard e Visa.

Em versões mais severas, impediria qualquer operação financeira que passe por instituições americanas. Do secretário do Tesouro dos EUA se diz que é o "adulto na sala". As palavras foram duras, mas os efeitos, quase inócuos. É ultrajante, mas não impeditiva. _

Para calçados, "sofrimento"

Presidente da Associação das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Haroldo Ferreira ficou desolado ao constatar que os produtos que têm polo importante no Rio Grande do Sul não estão nas exceções do tarifaço:

- O sofrimento que começaria na sexta começa já.

Dos 13% da produção nacional de calçados, diz Ferreira, 22% vão para os Estados Unidos. Agora, haverá busca de melhora de medidas paliativas do governo federal e dos estaduais:

- Ao menos enquanto não se consegue abrir um canal de negociação para baixar para um percentual plausível - diz Ferreira. _

BC avisa que juro fica alto por longo período

No dia em que o Brasil foi sacudido por diferentes ataques à soberania nacional, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) encontrou fleuma para manter o juro básico em 15% ao ano, por unanimidade, e ainda avaliar, no comunicado: "O ambiente externo está mais adverso e incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos".

Com incerteza nesse nível, não encontrou respaldo para suavizar o discurso e sinalizar abrandamento. Não aliviou e manteve até a expressão "período bastante prolongado" para a manutenção do patamar atual da Selic.

O Copom cumpriu o roteiro previsto da reunião anterior, quando havia antecipado a interrupção do ciclo de alta. Para a frente, porém, o cenário é mais nublado, como o texto informa: "Em se confirmando o cenário esperado, o Comitê antecipa uma continuação na interrupção no ciclo de alta de juros para examinar os impactos acumulados do ajuste já realizado, ainda por serem observados, e então avaliar se o nível corrente da taxa de juros, considerando a sua manutenção por período bastante prolongado, é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta".

De setembro de 2024 até a reunião anterior, em junho, o BC elevou a Selic em 4,50 pontos, o segundo maior ciclo de alta dos últimos 20 anos, perdendo só para a alta de 11,75 pontos entre março de 2021 e agosto de 2022. _

com João Pedro Cecchini

GPS DA ECONOMIA

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