
22 de Julho de 2025
GPS DA ECONOMIA - Marta Sfredo
Tarifaço entre protestos de americanos e manipulação
Duas importadoras de suco de laranja, Johanna Foods e Johanna Beverage Company, recorreram à Corte de Comércio Internacional dos EUA, em Nova York, em 18 de julho. O objetivo é obter medida cautelar contra o aumento da alíquota do produto que compram do Brasil. É a mesma corte que havia barrado todo o tarifaço, ainda em maio, mas teve decisão derrubada em seguida.
O retrospecto das decisões do Tribunal de Comércio Internacional não é muito promissor, mas isso não quer dizer que não haja esperança. O tarifaço do "Dia da Libertação" foi embasado na Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional de 1977. A alegação envolve grandes déficits que os EUA mantêm com a grande maioria de países.
Com o Brasil, no entanto, a situação é inversa: é um dos poucos com os quais os EUA têm superávit, ou seja, os americanos vendem mais aos brasileiros do que compram - situação ambicionada por Trump. Essa particularidade pode sustentar em outras cortes eventual decisão favorável aos importadores do Tribunal de Comércio Internacional.
Uma investigação nacional
Manipuladores de mercado com informação privilegiada "adivinharam" o efeito no dólar e embolsaram milhões. O caso está sob investigação da Advocacia-Geral da União (AGU), que também pediu à Procuradoria-Geral da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado de capitais no Brasil, que adote "em caráter prioritário" medidas que julgar cabíveis ao que avalia como um potencial "uso ilícito de informação privilegiada" por "prejuízos ao mercado e a investidores". No final da tarde, já foi para o Supremo Tribunal Federal (STF), em sinal de que pode haver suspeitos na mira.
Conforme apuração do Jornal Nacional, houve compra de dólares estimada entre US$ 3 bilhões e US$ 4 bilhões antes do anúncio de Trump, quando o dólar valia R$ 5,46. Dois minutos depois da publicação da "carta", pouco antes do fechamento do mercado, a mesma quantia de moeda americana foi vendida a R$ 5,60. Considerando o menor valor apontado, teria rendido lucro de R$ 420 milhões.
No mercado financeiro, as transações têm prazo para liquidação, portanto quem comprou e vendeu não precisava ter bilhões à mão. A estimativa do valor negociado, conforme o JN, é de Spencer Hakimian, dono de um fundo de investimentos em Nova York. Ele acompanha o mercado em tempo real, e avalia que tudo indica que a aposta aponta certeza de uma rápida desvalorização, ou seja, tinha informação do tarifaço antes dos demais. _
Entrevista - Kayo Soares - Fundador e CEO da Arvut, empresa de consultoria ambiental
"Setores que aplaudiram podem ter dado tiro no pé"
Kayo Soares avalia a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, aprovada no Congresso.
Como avalia a Lei Geral do Licenciamento Ambiental?
Enquanto alguns setores, principalmente o do agronegócio, comemoraram desburocratização e padrão nacional, ONGs e pesquisadores alertam para riscos de fragilização. Tentamos olhar por um viés complementar. Setores que aplaudiram o projeto podem ter dado tiro no próprio pé. Sim, desburocratiza e cria uma lei geral, mas gera riscos.
Quais?
Há questões que facilitariam o licenciamento, mas vão gerar insegurança jurídica e fragmentação federativa. Transfere a competência das definições e recomendações ambientais a Estados e municípios sem definir critérios técnicos uniformes. Ou seja, tira questões da União, o que pode despadronizar e, por consequência, causar vulnerabilidade jurídica, um prato cheio para judicialização. O que seria um ganho de desburocratização pode gerar anulação da licença.
Como será a separação entre União, Estados e municípios?
Não está definida, vai requerer regulamentação específica.
Há risco de judicialização?
Provavelmente o PL vai parar no Supremo Tribunal Federal. Grande parte deve ser considerada inconstitucional. Também é um risco para o próprio empreendedor. Vários pontos da Lei Geral do Licenciamento Ambiental contrariam a Constituição sobre a garantia de ambiente seguro e protegido para as populações futuras.
Afeta a competitividade de produtos brasileiros?
Podemos perder acesso a linhas de financiamento que exigem diligência ambiental. O Brasil tem matéria-prima e matriz energética limpas. Se passarmos a ter processo de licenciamento considerado frágil, as questões ambientais podem ser usadas como critério para impor barreiras. _
O dólar em seis meses de Trump
Entre tantas idas e vindas, até parece mais, mas Donald Trump, completou, no domingo, apenas seis meses na presidência dos Estados Unidos. De lá para cá, além das tarifas que ameaçam o comércio internacional, contribui, com seus gestos imprevisíveis, para a perda de valor do dólar, considerado até então incontestável.
Entre 20 de janeiro e a última sexta-feira, o real valorizou 9,1% frente à moeda americana. No acumulado do ano, a apreciação é ainda maior, de 11,6%. O levantamento é da Austin Rating. Mas, afinal, é o real que está se fortalecendo, ou o dólar que perde força?
Para explicar, o economista-chefe da agência de classificação de risco, Alex Agostini, usa outro dado: das 117 principais denominações do mundo, 71 se valorizaram frente ao dólar neste ano. Ou seja, há de fato um enfraquecimento global da moeda americana. Além disso, o câmbio decolou no Brasil com a decepção sobre o pacote de corte de gastos de dezembro e abriu 2025 cotado a R$ 6,162.
- Não é a percepção de que o dólar não é mais seguro. Só que o nível de alocação (decisão de onde colocar o dinheiro) está mudando devido ao aumento de risco nos EUA. A gestão de Trump está se mostrando muito atabalhoada - diz Agostini.
Entre os fatores que contribuem para o desgaste da moeda americana, conforme o economista, estão as tarifas, que provocam incerteza, e a ameaça de Trump de reduzir o juro por lá à força, o que traz perda de credibilidade ao Federal Reserve (Fed, banco central dos EUA). Na prática, o potencial resultado é o menor crescimento da atividade econômica e dívida americana crescente.
O diferencial de juro (quanto a taxa aqui está maior do que a dos EUA, hoje de 10,5 pontos percentuais) ajuda a valorizar o real, mas quando olhamos os fatores de risco nacionais, não teve mudança, ao contrário. Seguimos em uma briga para fechar as contas fiscais, houve judicialização do IOF. Os fatores de risco continuam. O cenário é global, mesmo - completa Agostini.
Outra leitura que permite a mesma conclusão: entre 20 de janeiro e a última sexta-feira, o real se desvalorizou 2,6% frente ao euro. Não é, mesmo, a moeda brasileira que está mais forte. _
Um dia de respiro
Não há sequer miragem de solução para as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros comprados pelos Estados Unidos, mas a semana começou com um respiro no mercado financeiro. Ontem, o dólar teve queda de 0,41%, para R$ 5,564, e o principal índice da bolsa de valores, o Ibovespa, alta de 0,5%, para 134 mil pontos. Declarações do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ajudaram a dar esse fôlego. A queda global do dólar frente a outras moedas emergentes e pares desenvolvidos também contribuiu. _
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