
28 de Julho de 2025
CLAUDIA LAITANO
Superatual
Se você, como eu, só assiste filmes de super-herói em situações extremas (insistência de filho ou sobrinho, insônia no avião, ausência de opções no bunker em que você foi parar depois de sobreviver a uma hecatombe nuclear), talvez não tenha dado muita bola para a estreia nos cinemas de um novo Superman. Eu provavelmente não teria assistido se não tivesse sido atingida em cheio pela estratégia de marketing mais eficiente que eu conheço: a indignação da extrema direita norte-americana.
Antes mesmo da estreia, o filme foi tachado de "woke", termo que se presta para quase tudo - do combate ao racismo ao uso de pronomes, da defesa do meio ambiente aos banheiros unissex - e portanto mais confunde do que esclarece qualquer discussão. Mas se desafiar as certezas da extrema direita pode ser considerado um sintoma de "wokismo" galopante, o Superman de James Gunn não tem mesmo muito como se defender.
Uma das provocações mais escancaradas é relembrar o espectador norte-americano, em meio a uma das campanhas mais agressivas contra a imigração que o país já assistiu, que o próprio Super-homem veio de outro planeta. Ou seja: é um imigrante. A outra é colocar o super-herói como antagonista do governo da Boravia, país fictício que invade o território vizinho, Jahranpur, com o apoio de um aliado superpoderoso - os Estados Unidos.
A coleção de momentos "qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência" não para por aí. Há uma prisão secreta, instalada em uma espécie de universo virtual paralelo, que lembra os locais pouco convencionais para onde centenas de deportados vêm sendo enviados pelo governo Trump. Há também referências à arrogância das big techs e às campanhas de difamação disseminadas com a ajuda de "bots" (que ganham, no filme, a forma de macaquinhos).
Criado pelos judeus Jerry Siegel e Joe Shuster em 1938, Superman já nasceu com um subtexto político, antinazista. (Em uma história publicada nos anos 1940, Como Superman Terminaria a Guerra, nosso herói segura Hitler pelo colarinho e manda essa: "Eu adoraria enfiar um soco puramente não ariano no seu queixo".) Em 2025, não é muito difícil concluir de que lado um super-herói que defende a verdade e a justiça deveria estar.
Infelizmente, nem o Super-homem parece capaz de nos livrar da kryptonita que anda enfraquecendo democracias mundo afora. Ao garantir aos vilões Lex Luthor (mezzo Elon Musk, mezzo Donald Trump) e Vasil Ghurkos (mezzo Putin, mezzo Netanyahu) o final que eles merecem, o filme de James Gunn nos oferece pelo menos o alívio catártico.
CLAUDIA LAITANO
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