sexta-feira, 18 de julho de 2025


18 de Julho de 2025
TENSÃO DIPLOMÁTICA

TENSÃO DIPLOMÁTICA

Lula eleva o tom com os EUA e diz que vai taxar big techs; Casa Branca rebate. Petista defendeu regulação das redes sociais, voltou a criticar tarifaço de 50% e reivindicou soberania. Em entrevista à CNN Internacional, afirmou que Donald Trump "não foi eleito para ser imperador do mundo". Governo americano reagiu, alegando que republicano é "um presidente forte"

Em uma escalada no tom em relação aos Estados Unidos após o tarifaço anunciado por Donald Trump na semana passada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o Brasil não vai ceder à pressão para aliviar a regulação das redes sociais. Afirmou ainda que o governo pretende tributar as plataformas.

A declaração foi feita durante o 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia. Lula afirmou que não vai aceitar "ordem de gringo".

- O mundo tem que saber que esse país só é soberano porque o povo é soberano e tem orgulho desse país. Eu queria dizer pra vocês que a gente vai julgar e cobrar imposto das empresas americanas digitais - afirmou, sem detalhar como seria a cobrança do imposto.

Quando confirmou a sobretaxa de 50% sobre todas as importações brasileiras no último dia 9, Trump acusou o Supremo Tribunal Federal (STF) de censurar empresas de tecnologia americanas. A regulação aprovada no fim de junho pela Corte, que prevê que as plataformas devem responder civilmente por conteúdos criminosos publicados por usuários, também é alvo da investigação aberta pelos EUA sobre práticas comerciais do Brasil.

Alguns países, ao aprovarem regulamentações de redes sociais, aplicaram impostos sobre serviços digitais. Um dos casos é o Canadá - que, no entanto, revogou a cobrança justamente em meio a negociações tarifárias com os EUA.

No mesmo discurso, Lula voltou a criticar o tarifaço, afirmando que "não aceita a ideia de o presidente (Trump) mandar uma carta pelas redes sociais dizendo que, se não libertar o Bolsonaro, a partir de 1º de agosto vai nos taxar em 50%".

Na carta em que comunicou o tarifaço, Trump também afirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro, réu pela tentativa de golpe em 2022, é alvo de perseguição do STF.

Mais cedo, em entrevista à CNN Internacional, Lula já havia feito críticas a Trump, afirmando que ele "não foi eleito para ser imperador do mundo" e que o Brasil "não aceitará nada que lhe for imposto".

- Ninguém quer ser livre dos EUA, o que queremos é não ser reféns dos EUA - disse.

À noite, Lula fez um pronunciamento em rede nacional no qual chamou o tarifaço de "chantagem inaceitável" e "um grave atentado à soberania nacional" e disse que os políticos brasileiros que apoiam são "traidores da pátria".

A resposta

Após a entrevista, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, respondeu Lula e disse que Trump "certamente não está tentando ser o imperador do mundo".

- Ele é um presidente forte dos Estados Unidos da América e também é o líder do mundo livre. E vimos uma grande mudança em todo o globo por causa da liderança firme deste presidente - alegou. _

"Se me der um passaporte, negocio", afirma Bolsonaro

O ex-presidente Jair Bolsonaro, em entrevista coletiva no Senado ontem, se colocou à disposição para conversar com Donald Trump. Ele afirmou que teria condições de barrar a sobretaxa de 50% imposta ao Brasil caso recebesse "carta branca" para isso.

- Acho que teria sucesso uma audiência com o presidente Trump. Estou à disposição. Se me der um passaporte, negocio - afirmou Bolsonaro.

O ex-presidente teve o documento retido em fevereiro do ano passado, durante uma operação da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe.

Carta

Trump divulgou ontem em rede social uma carta endereçada a Bolsonaro, na qual afirmou que o tarifaço é uma "manifestação de desaprovação" à ação penal do golpe.

"Tenho manifestado fortemente minha desaprovação tanto publicamente quanto por meio da nossa política tarifária", escreveu o americano.

O republicano afirmou que o ex-presidente sofre um "tratamento terrível pelas mãos de um sistema injusto" e que está "muito preocupado com os ataques à liberdade de expressão - tanto no Brasil quanto nos EUA - provenientes do atual governo".

Comitiva do Senado

Também ontem, o Senado divulgou a comitiva que irá a Washington para pressionar contra o tarifaço no Capitólio. São oito senadores, incluindo o líder do governo Lula, Jaques Wagner (PT-BA), o líder do PT, Rogério Carvalho (SE), o presidente da Comissão de Relações Exteriores, Nelsinho Trad (PSD- MS), e dois ex-ministros de Bolsonaro, Tereza Cristina (PP- MS) e Marcos Pontes (PL-SP).

A delegação deve viajar na última semana de julho, às vésperas da data prevista para o início da vigência da sobretaxa. Em nota, o Senado afirmou que o objetivo é "promover o diálogo direto com parlamentares norte-americanos". 

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