segunda-feira, 21 de julho de 2025


PRODUÇÃO AGRÍCOLA

Juro tem forte impacto na hora de cultivar soja e arroz no RS

Crédito mais caro se soma a cenário de endividamento e pressão pelo risco climático no Rio Grande do Sul. Produtor necessita, cada vez mais, fazer gestão adequada de sua propriedade, alerta especialista na área

A virada do ano agrícola em um cenário de juros altos trouxe condições atualizadas ao Plano Safra 2025/2026, o que significa novos custos para produzir. Na ponta do lápis, quer dizer que o produtor pagará mais caro para implementar a próxima lavoura.

No Rio Grande do Sul, o panorama se junta à inadimplência rural em alta, o que acrescenta novos desafios financeiros para os agricultores. Mas quanto custa plantar?

Professor da pós-graduação da Fundação Getulio Vargas (FGV) e especialista em crédito rural, Luiz Cláudio Caffagni calculou para Zero Hora o peso dos juros na conta total da produção para duas culturas agrícolas no RS, o arroz e a soja. Na prática, os juros representam o custo pelo empréstimo do dinheiro tomado pelos agricultores.

Na soja, principal cultivo gaúcho, o aumento das taxas representa acréscimo de R$ 97,60 por hectare no custo de produção da temporada 2025/2026.

- Isso é muita coisa considerando todos os demais gastos - analisa Caffagni.

No arroz, a elevação é ainda maior: R$ 244,20 por hectare plantado.

O cálculo considerou a taxa de 14% do Plano Safra disponibilizada ao custeio para o grupo dos chamados "demais produtores" (sem acesso a Pronaf e Pronamp), mais o custo operacional cobrado pelos bancos, de taxa média de 3%.

No caso da soja, o valor de R$ 829,80 empenhado somente em juros é maior que o valor gasto, em média, com fungicidas, de R$ 643,21. Já no arroz, as taxas (R$ 2.075,90) representam valores acima do que o produtor gasta com fertilizantes (R$ 1.801,88).

A análise também comparou como ficariam os custos com os juros tomados no chamado mercado livre, com taxas aplicadas fora do Plano Safra. Neste segmento, a taxa média é de 21% (considerando o custo operacional incluso).

- É pouco mais de um quinto do custo de produção, ou seja, de tudo o que se gasta para fazer a lavoura - destaca Caffagni.

Seguro

Como base de cálculo, Caffagni utilizou os valores do custo de produção disponibilizados pela Federação da Agricultura do RS (Farsul) referentes a maio de 2025. O custo de produção por hectare (sem os juros) é de R$ 12.211,18 para a cultura do arroz e de R$ 4.881,22 para a soja.

Além dos custos já esperados para se implantar as safras, Caffagni menciona outros dois fatores que encarecem a produção no Rio Grande do Sul: o seguro e o risco climático. A frequência de eventos extremos nos últimos anos, da estiagem à enchente, trouxe novos componentes às contas dos agricultores - muitos deles sendo a razão, inclusive, para o endividamento em alta na atividade rural do Estado.

- É um setor que corre mais riscos de maneira geral. Há riscos de volatilidade de preços, de taxa de câmbio, de sanidade, o risco climático. O Rio Grande do Sul tem sido mais penalizado ao longo dos anos pela questão climática em relação a outros Estados, porque há uma frequência (de eventos) maior. Olhando o aumento da taxa de juros sob esta perspectiva, o custo de produção inevitavelmente fica maior com todas essas variantes. Fica mais difícil produzir, portanto - resume Caffagni.

A confirmação do cenário de risco aparece no valor do prêmio dos seguros agrícolas, que é a quantia paga à seguradora para se ter a cobertura de uma determinada área.

Dados extraídos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que o seguro rural custava R$ 422,53 em São Luiz Gonzaga, nas missões gaúchas, em 2024. O valor é mais que o dobro do aplicado em outras regiões produtoras de referência - custa R$ 280,79 em Dourados, no Mato Grosso, e R$ 48,47 em Uruçuí, no Piauí.

O recado final do especialista é de que o agricultor precisa ter o olhar ainda mais atento à administração financeira das propriedades:

- O produtor precisa, cada vez mais, fazer uma gestão adequada da sua fazenda. São as únicas variáveis que ele consegue mexer e controlar. O caminho é a gestão. 

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