sábado, 7 de dezembro de 2013


07 de dezembro de 2013 | N° 17637
NELSON MANDELA

Longa marcha para o adeus

Nos próximos 10 dias, a África do Sul será local de peregrinação para estadistas, artistas e personalidades do mundo inteiro. A despedida ao ex-presidente Nelson Mandela, ícone da luta contra o racismo e a opressão, que morreu na noite de quinta-feira, constituirá uma das mais concorridas cerimônias públicas da história

Passado o impacto da morte de Nelson Mandela, o líder e ex-presidente sul-africano que se tornou ícone mundial contra o racismo será motivo de homenagens e muita reflexão nos próximos dias. Ele será sepultado em 15 de dezembro, disse o atual presidente sul-africano, Jacob Zuma. O líder negro morreu na noite de quinta-feira, aos 95 anos.

Os eventos públicos e o velório do ex-presidente começarão na terça-feira, com uma missa solene no Estádio Soccer City, em Joanesburgo. O local é o mesmo onde Mandela apareceu publicamente pela última vez, em 11 de julho de 2010, na final da mais recente Copa do Mundo.

No mesmo dia 10, o corpo seguirá para Pretória, onde deverá ser velado por três dias no Union Buildings, residência oficial da presidência da República. A cerimônia deverá começar na quarta e terminar na sexta-feira, com a passagem de chefes de Estado, líderes políticos nacionais e a população. Dois dias depois, o corpo de Mandela será enterrado em Qunu, aldeia onde nasceu em 1918 e onde fica o mausoléu de sua família. E no dia 16 deve ser erguida uma estátua do líder em frente ao Union Buildings.

Zuma convocou para amanhã um dia nacional de orações e reflexões nos templos religiosos de todo o país para “refletir sobre a vida de Madiba (apelido tribal de Mandela) e sua contribuição para o país e o mundo”. Ao fazer o anúncio, afirmou que o amor demonstrado pelos sul-africanos e por outros países é “sem precedentes”.

– Isso demonstra a importância que Madiba tinha como líder. Devemos trabalhar juntos para organizar o melhor funeral possível para esse filho tão destacado do país e o pai da nossa nação – disse.

O sepultamento de Mandela será um dos maiores já realizados em todo o mundo. Deverá contar com a presença de dezenas de chefes de Estado e de governo, além de personalidades esportivas, da música e do cinema e de milhares de sul-africanos.

A expectativa é de que o número de estadistas e governantes seja próximo ao do velório de João Paulo II, em 2005, que teve a presença de cinco reis, seis rainhas e 70 presidentes.

A presidente brasileira Dilma Rousseff já informou que deverá ir à cerimônia. Além dela, são esperados o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, o príncipe Charles, o premier britânico David Cameron, o presidente cubano Raúl Castro e o ditador do Zimbábue, Robert Mugabe.

Entre as celebridades, deverão comparecer a ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton, a apresentadora Oprah Winfrey, o ex-capitão da seleção de rúgbi sul-africana François Piennar, campeão do mundo em 1995, e o vocalista da banda U2, Bono Vox.

Libertado em 1990 após ter passado 27 anos atrás das grades do apartheid, Mandela se tornou o primeiro presidente negro da África do Sul quatro anos depois. Caracterizou-se como um grande reconciliador, conquistando a admiração de ex-inimigos com os quais soube dialogar.

Mandela, enfim, entra para a história, em especial, por ter negociado com o governo do apartheid uma transição pacífica para uma democracia multirracial. Também por ter evitado a guerra civil que parecia praticamente inevitável nos anos 1990.

O ícone antirracista, que completara 95 anos em 18 de julho, havia sido hospitalizado em quatro ocasiões desde dezembro de 2012, sempre por infecções pulmonares. Os problemas se relacionavam com as sequelas de uma tuberculose contraída durante o longo período em que passou na ilha-prisão de Robben Island, na costa de Cabo, onde passou 18 anos dos 27 de detenção nas prisões do regime racista.


CLÉBER GRABAUSKA | PRETÓRIA

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