05 de dezembro de 2013 |
N° 17635
PAULO SANT’ANA
Pérolas noturnas e diurnas
Um dos trechos do final da
palestra muito apreciada que Nelson Sirotsky pronunciou no Tá na Mesa de ontem
na Federasul: “Nunca tive medo de correr riscos”.
E eu silenciosamente na plateia
acrescentei: “Assim como se deve sempre correr o risco de vir a ter medo”.
Frase minha a um dos
participantes do Sala de Redação, terminado um dos programas, quando ele
perguntava se eu poderia dar-lhe uma carona até o Centro: “Impossível. Eu sou o
centro”.
A melhor autodefinição que
consegui obter: “Sou unívoco e, ao mesmo tempo que concomitantemente plurívoco,
também me considero inequívoco”.
Mas a melhor definição que achei
para mim foi de um sexteto do inimitável Augusto dos Anjos: “Sou uma sombra/
venho de outras eras/ do cosmopolitismo das moneras/ pólipo de recônditas
reentrâncias/ larva do caos telúrico procedo/ da escuridão do cósmico segredo/
da substância de todas as substâncias”.
Não havia jeito de encontrar a
palavra moneras em vários dicionários. Mas o Clóvis Malta é um diligente
esquadrinhador de glossários e achou finalmente: “Reino biológico que incluía
todos os organismos vivos (termo já obsoleto)”.
No samba Nervos de Aço, Lupicinio
Rodrigues traça o pior martírio para quem ama uma mulher, o de encontrá-la a
passear na rua aos namoricos com outro homem: “Você sabe o que é ter um amor/
meu senhor/ ter loucuras por uma mulher/ e depois encontrar este amor/ meu
senhor/ ao lado de um tipo qualquer/ você sabe o que é ter um amor/ meu senhor/
e por ele quase morrer/ e depois encontrá-lo em um braço/ que nem um pedaço do
seu pode ser”.
Por mais que seja belo um outro
homem com quem se encontra a nossa mulher na rua, sempre vamos considerá-lo um
horrendo farrapo.
E a mais bela definição que já
ouvi sobre a aparência de uma mulher amada é também traçada pelo mesmo
Lupicinio no antológico samba Quem Há de Dizer, quando ele avista sua deusa
numa boate: “Quem há de dizer/ que quem vocês estão vendo/ naquela mesa
bebendo/ é o meu querido amor/ repare bem que toda vez que ela fala/ ilumina
mais a sala do que luz do refletor”.
Baaahhhhhh!
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