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quarta-feira, 7 de março de 2012
07 de março de 2012 | N° 17001
ARTIGOS - Céli Regina Jardim Pinto*
8 de março – parabéns!
Obrigada, merecemos realmente parabéns, pois, desde as sufragetes inglesas do início do século 20 até os dias de hoje, são muitas as vitórias das mulheres. Conquistamos o direito ao voto, o direito de nos educar e entrar nas universidades, de sermos cidadãs de primeira classe mesmo casadas, de não precisarmos de autorização de ninguém para viajar, trabalhar, ir e vir. Enfrentamos preconceitos, tivemos muitas vezes de provar que éramos tão competentes quanto os homens no trabalho, apesar de ganharmos menos.
Para conseguirmos ser iguais, tivemos sempre de ser as melhores. Lutamos pelo direto a termos uma vida adulta independente e sexualmente satisfatória. Lutamos contra o tabu da virgindade, contra o machismo primário que nos definia segundo a vontade, o poder e interesses, muitas vezes, pouco confessáveis.
No Brasil conseguimos importantes vitórias, que se expressam em muitos momentos da história recente do país: na luta pela anistia ainda durante a ditadura; na criação do Conselho Nacional das Mulheres na década de 1980; nos projetos gestados no movimento feminista e levados até a constituinte e daí transformados em direitos na Constituição de 1988; na criação de delegacias de polícia especiais para cuidar da violência contra a mulher; na Lei Maria da Penha; na criação da Secretaria Especial de Política das Mulheres.
Mas o 8 de março não é só comemoração. Muitas de nossas vitórias se naturalizaram, isto é bom, mas ao mesmo tempo trazem um grande problema: as novas gerações de mulheres tendem a ver o feminismo como coisa do passado, sem se darem conta de que a vida que levam hoje seria impossível sem as lutas do feminismo ao longo do século 20.
Os jovens hoje, mulheres e homens, correm o risco de perderem estas conquistas se não se derem conta de que são sempre conquistas, que antes não era assim. E conquistas têm de ser mantidas, revisitadas e garantidas.
Portanto, temos de continuar a lutar, não só para garantir os direitos já conquistados, mas porque existe muito a fazer: enquanto as mulheres continuarem a serem mortas, enquanto a prostituição infantil for um fato apenas relatado; enquanto houver trabalho escravo de mulheres, crianças e homens, continuaremos lutando.
Enquanto houver preconceito contra as mulheres por sua cor ou orientação sexual, estaremos presentes. Estamos abertas para encarar de frente uma discussão madura sobre o aborto no país, longe do cinismo dos discursos eleitorais ou de uma triste moral de calças curtas.
Não podemos permitir que nossos corpos, nossos sentimentos e nossos sofrimentos sejam alugados por credos religiosos, políticos ávidos de voto a qualquer preço ou por senhores vetustos às vezes de fichas não muito limpas. Há muita luta pela frente!
*Cientista política, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
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