sexta-feira, 16 de março de 2012



16 de março de 2012 | N° 17010
ARTIGOS - Berfran Rosado*


O que não tem preço não é valorizado

Fala-se em uma nova “economia verde”, em que as premissas das relações comerciais estão associadas aos conceitos de sustentabilidade ambiental, proteção aos recursos naturais e redução das emissões de gases de efeito estufa.

Muitas são as iniciativas, pouco é o impacto desses negócios no total da economia mundial, e é menor ainda que o desejável para o estágio de desenvolvimento que alcançamos e para o grau de poluição e dano ambiental que produzimos.

Os preços dos produtos, em geral, são fixados pelo custo do trabalho e dos insumos, e pela margem de lucro limitada pelo mercado. Entretanto, existe uma “externalidade” – um custo a mais – nos produtos que deveria ser pago por todos nós, que é a geração, ocasionada pela produção, da poluição do ar, das águas, do solo, da intensificação do aquecimento global e da degradação de recursos naturais, resultando em riscos à saúde.

Esses custos, no entanto, não são incluídos nos preços dos produtos, e com isso nos enganamos, mas não enganamos o ambiente natural, que reage e nos impõe sofrimentos com as mudanças climáticas ou a intensificação dos eventos climáticos extremos.

Gretchen C. Daily, no livro Nature’s Services: societal dependence on natural ecosystems, lembra que os “serviços ambientais”, que operam naturalmente, sem ônus financeiro para a humanidade, estão com seus processos rompidos pela ação do homem e, desta forma, essa “generosidade” fica comprometida e o valor para torná-los novamente efetivos é incalculável e sem chances de voltarem a ser eficientes como em sua situação de origem. Mas algo precisa ser feito e sem hipocrisias.

Hoje, a legislação e o poder público punem o poluidor “pagador”, quando individualizado ou excessivo, mas não atingem o coletivo da sociedade quando, por exemplo, queimamos combustíveis fósseis ou utilizamos energia não renovável. O ambiente e a sociedade perdem, porém ninguém paga por isso.

O debate sobre o pagamento pelos serviços ambientais nos permite trazer a questão da “precificação” da responsabilidade ambiental. O que não tem preço não é valorizado! Aqui no Estado, não avançamos, nem tornamos realidade legislação que permite cobrar pelo uso da água. Enquanto isso, nossos mananciais hídricos se aniquilam. Pagar pelo trabalho que a natureza nos oferece pode demorar, mas podemos começar ampliando a consciência ambiental que constrói, concretamente, uma economia sustentável.

*Presidente do Instituto Biosenso de Sustentabilidade Ambiental

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