segunda-feira, 26 de março de 2012



26 de março de 2012 | N° 17020
PAULO SANT’ANA


Túmulos

Em 1973, quando vi, eu estava diante do túmulo de Napoleão, em Paris.

Dias antes, eu estivera no mausoléu de Lênin, em Moscou.

Não sei por que não fui ao túmulo de Joana D’Arc. Sempre tive a mania de visitar túmulos, tanto que tenho o remorso de não ter ido à Paraíba para visitar a sepultura de meu poeta, Augusto dos Anjos.

Onde há ciprestes, pode ficar certo de que eu ando rondando por ali.

Se eu pudesse ou tivesse imaginação, visitaria o meu próprio túmulo, isto é, compraria agora um terreno num cemitério, escreveria um epitáfio e visitaria a sepultura onde iria repousar quando morresse.

E quando um dia fores comovida,

Branca visão que entre os sepulcros

erra,

Visitar minha fúnebre guarida,

O coração, que todo em si te

encerra,

Sentindo-te chegar, mulher

querida,

Palpitará de amor dentro da terra.

Se me permitissem, gostaria de ser sepultado no Parque Farroupilha, local por cuja preservação lutei durante toda a vida, querendo cercá-lo para abri-lo, protegendo-o dos vândalos que o degeneram durante todas as noites.

É importante o local em que se vai repousar por toda a vida, o endereço da eternidade. Ainda assim, como se verifica nos cemitérios atuais, pode o cadáver ser despejado se seus familiares não lhe pagarem o aluguel funéreo. Isso chega a ser aterrorizante. Mesmo depois de morto, ainda há que se pagar tributos.

A ressurreição é responsável por não se ter hoje na Terra um túmulo de Jesus.

Se Jesus não tivesse ressuscitado e tivessem sido preservados seus restos mortais, imaginem as romarias que os cristãos fariam todos os anos, vindos de todas as partes do mundo para visitar o túmulo de Cristo. Se já no Santo Sepulcro, em Jerusalém, as romarias são intensas, embora ele não contenha os restos mortais de Jesus, se algum lugar os contivesse, seria mais sagrado (ou mais concorrido), talvez, que Meca para os muçulmanos.

Morreu Chico Anysio, notícia que me caiu como um grande pesar. Não só porque se tratava de um grande artista, mas também porque celebrei com ele uma amizade nas vezes em que vinha a Porto Alegre, participava do Jornal do Almoço e eu no meu carro trazia-o para o Sala de Redação.

Era dono de um grande talento e de um papo delicioso. Abriu-me sua intimidade e fiquei, assim, sabendo das relações que teve com as mulheres com quem se casou.

Pode não ter sido o maior humorista que tivemos, lembro-me que José Vasconcellos era pura gargalhada. Mas, em televisão, Chico Anysio foi o mais marcante ator.

Resistiu à velhice com bravura indômita, a Globo tratou sua velhice com dignidade, nunca negou espaço para ele, embora o tivesse reduzido.

Pode-se dizer também que era um literato, lançou diversos livros divertidíssimos.

Que pena, quando um artista assim de tanta abrangência morre, o povo por instantes largos fica triste.

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