sábado, 31 de março de 2012



31 de março de 2012 | N° 17025
DAVID COIMBRA


Cervejas artesanais e banha de porco

Cervejas artesanais são a nova tendência. Cervejas caseiras, feitas com o carinho da mãe ao pé do fogão, algumas mais frutadas, outras de insinuância agridoce, como de insinuância agridoce são certas mulheres, a maioria densa, cremosa feito um sorvete belga, deliciosas, originais, quase exclusivas.

O meu amigo Marcelo Rech disse que existem 10 mil marcas de cervejas artesanais nos Estados Unidos. No Grande Irmão do Norte, você pode tomar três cervejas artesanais diferentes por dia, durante dez anos, sem repetir marca. Mas o que é que nós estamos fazendo, que não estamos nos Estados Unidos, avaliando com critério essas cervejas, me diga?

O fato é que cervejas artesanais me interessam, sim senhor. Tudo o que se refere a comida & bebida me interessa. A banha de porco, por exemplo. Temos que fazer algo para recuperar o prestígio da banha de porco. Nenhum feijão é tão saboroso quanto o que é preparado com banha de porco.

Ovo frito na banha de porco, as bordas da clara sequinhas e da cor do caramelo, o centro da clara duro e macio, a gema mole a se derramar sobre o monte de arroz, ovo frito desse quilate é de comer com lágrimas nos olhos, em sua genial simplicidade. Quando eu era guri e minha mãe passava por dificuldades financeiras, a manteiga virou proibitiva devido ao preço. Então, eu comia pão com banha e sal. E era ótimo!

Banha de porco. Precisamos tirar a banha de porco do ostracismo, eu e você. Sei que não será fácil nesse tempo em que as pessoas se recusam, entre outros absurdos, a comer torresmo. Para o meu avô, torresmo era uma iguaria. Comia-o com cerveja preta, como tira-gosto, e sorria ao comer. Mas alguém disse que torresmo faz mal por algum motivo, então as pessoas baniram o torresmo para sempre, como Adão e Eva foram banidos do Éden. E, no lugar do torresmo, o que elas colocaram?

Você não vai acreditar.

No lugar do torresmo, elas colocaram TOMATE SECO. Cristo, mas como é que um ser humano se compraz em comer tomate seco? E, repare, fala aqui um admirador incondicional do tomate, o “pomodoro” dos italianos. Mas aprecio o tomate em fatias, como complemento de saladas, ou transformado em molho, para temperar o espaguete.

Digo mais: considero o molho branco uma fraude. Molho, para mim, tem de ser vermelho, o tomate como base. Certo. Mas não posso admitir que alguém considere tomate seco comida digna de ser citada em em placas de restaurantes como um dos trunfos do cardápio. “Prove nossa salada de tomate seco”. Por favor! Mantenha-me longe desse lugar.

Felizmente, o tomate seco saiu de moda. Hoje, o tomate seco é como o Orkut, que caminha par ao olvido. O salmão também está perdendo espaço gradualmente, o que até acho injusto. O salmão fez por merecer tudo que conquistou a partir dos anos 90, e ainda hoje podemos ser felizes com uma salada de salmão como a que o Z Café dos meus amigos Carlo e Sandro serve, ali no Moinhos de Vento.

O importante é que saibamos diferenciar o essencial do passageiro. Há o que seja re-al-men-te importante, e há o perfunctório. O que é re-al-men-te importante na atuação de um juiz de futebol?

É a disciplina. É conduzir o jogo de forma segura. Quando as partidas terminam com jogadores com ossos quebrados, como estamos vendo atualmente, há algo errado com a arbitragem. Algo visceral, definitivo, conclusivo, algo que interessa de fato, como comida e bebida. Nada é mais importante do que comida e bebida. E segurança. Com comida, bebida e segurança podemos ser felizes. Sobretudo se a felicidade tiver o tempero da banha de porco.

O melhor

O melhor jogador que vi em ação foi Roberto Rivellino, mas, se pudesse escolher um jogador para escalar no meu time, tendo de ser um único dentre todos os que assisti em pessoa, no campo de jogo, esse jogador seria Zinedine Zidane. Porque era dono da habilidade congênita do craque, o que é essencial para o fora de série, sim, mas também porque tinha muito mais.

Zidane tinha o poder da conclusão fina que lhe mantinha frio nas sombras da floresta de zagueiros da grande área, tinha a violência certeira do disparo de longa distância, tinha a compreensão do jogo e, o principal, tinha personalidade.

Zidane ganhava um jogo sozinho, e essa é a marca do craque.

Personalidade, essa é a marca do craque. Nenhum grande time se faz sem jogadores de personalidade forte. O maior Inter de todos os tempos tinha Figueroa, Marinho, Claudio, Vacaria, Falcão, Carpegiani e Valdomiro, sete jogadores de personalidade. O Grêmio campeão do mundo tinha Mazaropi, Paulo Roberto, De León, Baideck, China, Mário Sérgio, Paulo César Caju e Renato, oito jogadores de personalidade.

Conte os jogadores de personalidade de um time. Se forem bons jogadores, o time está muito próximo de ser um time que faz história.

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