Entrelacos

14 de março de 2012 | N° 17008
PAULO SANT’ANA

O meu maior prazer

A medicina tradicional se gaba de que atualmente as pessoas têm maior expectativa de vida, morrem com idade muito mais avançada que antigamente.

Pelo fato de as pessoas estarem morrendo mais velhas, os fundos de aposentadoria, públicos e privados, estão sofrendo um baque.

Mas a vantagem de as pessoas morrerem com mais idade não está muito bem contada.

Morrem com mais idade, mas, depois dos 60 anos, idade máxima que um homem poderia atingir no início do século passado, que tipo de vida essas pessoas têm?

De que adianta morrer com 80 anos? Ou 90 anos? É vantagem viver se arrastando, com diabetes ou Alzheimer ou Parkinson?

E lá vai o homem com 80 anos gastando fortunas com remédios, ficando mais renitente, depressivo e irritadiço. E ainda por cima encarregando seus familiares e os médicos de cuidados. É vantagem?

Isso é uma coisa que se precisaria discutir.

O meu amigo Paulo Sérgio Guedes é quem sempre diz: “Deus me livre, chegar até os 80 anos”.

O dr. Júlio Bergmann é aquele que me escreveu, como cientista, dizendo que os sucos de frutas fazem mal para o organismo humano porque contêm frutose. E que a frutose causa esteatose hepática, comum nos alcoolistas, ocasiona gordura e ataca, assim, o fígado.

Uma tese muito polêmica, que foi logo em seguida combatida por outros leitores que me mandaram contestação enérgica.

E vários leitores mandam perguntar ao dr. Bergmann, estudioso das propriedades da água, o que ele acha da água que os gaúchos consomem no chimarrão. É boa?

Não sei por que imaginei que se deveria usar água mineral no chimarrão.

Eu, por exemplo, sinto que vou ter de recomeçar a minha vida. Porque ela está no fim.

Ou não está no fim uma pessoa como eu, que tem como maior prazer atualmente, durante todos os dias, comer à noite uma torta fria regada a meia garrafa de cerveja uruguaia?

Quando um homem como eu tem como maior prazer na vida comer uma lasanha à bolonhesa é porque está mesmo no fim.

E os outros grandes prazeres da vida onde é que ficaram?

O sexo é com certeza o maior de todos os prazeres. Já para mim, o maior de todos os prazeres vem sendo apenas um espaguete fabricado na Itália (Barilla), com molho de tomate sem pele, que também vem da Itália importado em latas.

Estou mesmo no fim, não é?

Depois que o sexo acabou para mim e o Grêmio não ganhou nunca mais títulos importantes, o maior prazer da minha vida virou nhoque com queijo gratinado!

Cheguei ontem à conclusão de que o melhor lugar para se viver na Terra é no ventre da nossa mãe, quando estamos sendo gerados. Porque é o único lugar em que se pode viver sem pagar as contas.