sábado, 17 de março de 2012



18 de março de 2012 | N° 17012
PAULO SANT’ANA


O corno presuntivo

Eu abordei aqui as mulheres que procuram detetives particulares para investigar seus maridos, quando suspeitam de traição.

Faltou abordar a fauna mais pitoresca da presunção de adultério, que são os maridos que desconfiam de suas mulheres.

O marido que anda desconfiado da mulher é um amargurado. Por vezes, ele espera que a mulher vá ao banheiro e toma o celular dela e fica checando as ligações.

Vasculha suas roupas e demais pertences à procura de vestígios da traição. Se ela dirige o carro, ele fuça nos bancos do carro na esperança de que haja ali pistas do adultério.

Por fim, sem conseguir qualquer prova material de que sua mulher o trai, ele se submete ao vexame principal: contrata um detetive particular e com isso gasta os tubos para vir a obter os indícios de que é traído.

Os 15 dias que se seguem são de intenso nervosismo para o corno presuntivo (corno presumível).

Enquanto o detetive investiga sua mulher, ele não cabe em si de expectativa pelos resultados das investigações.

Em realidade, acontece nesses casos um estranho fenômeno relacionado com a intrigante natureza da mente humana: o corno presuntivo torce desesperadamente para que o detetive venha lhe trazer provas de que sua mulher é adúltera.

Se o detetive não conseguir provas e vier a afirmar que a mulher é honesta, o corno presuntivo desaba de decepção. Ele pagaria o dobro ao detetive se ele trouxesse provas incriminatórias contra a mulher.

É um fenômeno!

Nos 15 dias em que se desenvolvem as investigações do detetive, por vezes a mulher diz ao marido: “Benzinho, ando com a impressão de que alguém está me seguindo por toda a parte aonde vou”.

O marido afeta à mulher que se trata de uma impressão paranoica dela, que ninguém a está seguindo. Mas secretamente o marido vibra com o fato de que o detetive está cumprindo com seu dever e merecendo os honorários pagos por ele.

Na maioria dos casos explicitados acima, o detetive vai ao marido e diz que atesta que sua mulher é fiel.

E, durante o episódio, por incrível que pareça, a relação entre o marido e a mulher melhora.

E sabem por que melhora? Pelo simples fato de que uma verdade se encerra também nas relações conjugais ou amorosas: a dúvida é combustível excelente para o amor.

Ai dos amantes que não desconfiam de suas amadas e vice-versa.

Sempre há que se ter, numa relação ideal, uma ponta de dúvida.

Será que ele é meu? Será que ela é inteiramente minha como parece?

Mas não deixa de ser curiosíssimo que um namoro, seguido de uma lua de mel e de um casamento, termine precisando incrivelmente dos serviços de um detetive particular.

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