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sábado, 24 de março de 2012
24 de março de 2012 | N° 17018
DAVID COIMBRA
O Povo do Veado Vermelho
Agora mesmo, precisamente nos idos de março de 2012, a Universidade de New South Wales, da Austrália, anunciou a descoberta de um novo tipo de ser humano. É um homem muito diferente do homo sapiens, ou seja, muito diferente de nós todos, os sete bilhões de homens, mulheres e crianças que respiramos sobre a superfície do planeta.
Os pesquisadores chamaram esse homem estranho de “Povo do Veado Vermelho”. Por dois motivos: porque seus fósseis foram encontrados no sul da China, no interior da caverna “Maludong”, que significa “veado vermelho”, e porque eles se alimentavam basicamente da carne desse animal, já extinto.
Por sinal, há que se ressaltar que o Povo do Veado Vermelho também já está extinto, nenhum representante deles anda lá pela China hoje em dia. Eles eram menores do que o homem atual, tinham o cérebro arredondado, o rosto curto e a mandíbula recuada – não se pode dizer que fossem Brads Pits. Mas o detalhe mais a respeito deles é o período em que viveram: podem ter existido até 11 mil anos atrás.
Onze mil anos. Anteontem, historicamente falando. O formidável é o fato de que o Povo do Veado Vermelho, assim como o Neandertal, conviveu, e muito, conosco. Imagine se não tivesse sido extinto. Imagine se nenhum dos outros tipos humanos houvesse desaparecido.
Sim, pois só restamos nós. Isso é fascinante: todos nós somos o mesmo homo sapiens, todos, dos menores pigmeus aos maiores escandinavos, dos japoneses bebedores de saquê às rebolantes mulatas brasileiras, de Mozart a Bush, da Megan Fox ao Tiririca, todos temos a mesma origem africana e basicamente os mesmos genes.
Então? Como seria partilhar o espaço na Terra com hobbits de um metro de altura, do tamanho de um homo sapiens de quatro anos de idade; com australopitecos um pouco maiores, do tamanho de um Danny De Vito, mas com menos capacidade intelectual do que um Stalone; com homos erectus agressivos feito lutadores de MMA; como seria? Imagine um pai se lamentando com um amigo:
– Minha filha está namorando um Neandertal...
Como seria o mundo se as várias espécies humanas tivessem sobrevivido intactas, como sobreviveram as baratas e os besouros?
Jamais saberemos. Eles se foram e só nós restamos. Diversas dessas espécies existiram durante milhões de anos. Alguns cientistas acreditam que houve caçadores e coletores pelo planeta há quatro, cinco e até há seis milhões de anos.
E nós temos de 200 mil a 120 mil anos. Isto é: o homo sapiens existe numa lasca de tempo correspondente a 2% do período total da existência humana no planeta. Somos muito jovens. Somos nenês, perto das espécies que já se foram. Como acabamos com eles todos? Como acabamos com o Povo do Veado Vermelho, que viveu há 11 mil anos?
Como?
Com a Civilização.
A Civilização, que é mais jovem ainda e existe há menos 12 mil anos, eliminou todas as demais espécies humanas que existiam, inclusive o Neandertal, que era mais forte e que possuía um cérebro maior do que o nosso.
Será uma vitória da Civilização? Ou será que a Civilização, criada pelo homo sapiens, não acabará com o próprio homo sapiens? Pode ser. Porque, com nada mais do que 12 mil anos de idade, é como se a Civilização tivesse marcado um gol a 10 segundos de jogo. É uma parca vitória, uma vantagem mínima. E, como o Inter tem mostrado na Libertadores, o jogo só termina quando acaba.
A lenda
O jornalista Claudio Dienstmann, grande pesquisador do futebol gaúcho, terminou de escrever um livro contando a história de Eurico Lara, mítico goleiro do Grêmio que Lupicínio Rodrigues incluiu na letra do hino do clube. “Lara, o craque imortal, soube o teu nome elevar”.
Lara tornou-se famoso em todo o país graças às suas atuações no campeonato brasileiro de seleções estaduais – naquele tempo, não havia campeonatos entre clubes de estados diferentes. Os campeões eram sempre os cariocas ou os paulistas.
Os gaúchos nunca derrotaram os paulistas, que tinham Friedenreich, El Tigre, como centroavante. As defesas de Lara, no entanto, foram tão espetaculares que os paulistas passaram a admirá-lo.
Lara jogou literalmente até não aguentar mais. No famoso Gre-Nal Farroupilha, vencido pelo Grêmio por 2 a 0, ele saiu no intervalo e foi direto para a Beneficência Portuguesa, onde morreu semanas depois.
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