quinta-feira, 22 de março de 2012


Claudia Antunes

Condenar e gostar sem refletir

RIO DE JANEIRO - A comunicação eletrônica acelerou nas pessoas o ímpeto de expressar opinião instantânea sobre tudo. Parece démodé dizer isso, mas a rapidez do veículo não justifica a frequência com que se publicam manifestações irrefletidas.

Nesta semana, blogueiros e participantes de redes sociais se apressaram em condenar o filho de Eike Batista pelo atropelamento e a morte de Wanderson Pereira dos Santos, um ciclista pobre. Exibiram a mesma sofreguidão com que Eike correu para fazer da vítima o culpado.

É possível que Thor dirigisse em velocidade acima do permitido ou que trafegasse pelo acostamento, mas pressionar por uma investigação isenta é a atitude justa no caso. Citados na internet, os fatos de que ele seja filho de um bilionário amigo do governador, de nunca ter lido um livro, de acumular multas ou de usar um carro de R$ 3 milhões -ou mesmo de que exista um automóvel tão caro- não bastam para provar culpa no episódio específico.

Outro caso é a propagação do documentário de uma ONG americana sobre o senhor da guerra Joseph Kony, de Uganda, processado pelo Tribunal Penal Internacional por crimes como sequestro e tortura de crianças. O vídeo bateu o recorde de 100 milhões de acessos em seis dias.

Ativistas de direitos humanos africanos, sem obter o mesmo alcance, criticaram a peça por ignorar os meandros do conflito, desconhecer a ação de grupos locais para erradicá-lo e promover a velha e infeliz tese do homem branco civilizado que chega para salvar os primitivos.

A internet ampliou as vozes na esfera pública, o que é muito positivo. Mas produz, às vezes, uma falsa e autocongratulatória consciência de ação política efetiva. Quando um só rico simboliza a luta de classes e um só criminoso personifica a complexidade de uma guerra, surge a ilusão de que é simples fazer justiça, sem que nada mude de verdade.

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