terça-feira, 13 de março de 2012



13 de março de 2012 | N° 17007
LUÍS AUGUSTO FISCHER


Um relógio, o pai e o filho

Talvez chateiem o eventual leitor deste espaço as reiteradas referências ao meu filho, agora com cinco anos. E não pense o leitor que eu não considero ainda outra questão: e meu filho, gostará ele de ser tomado como assunto por seu pai, ele que ainda não lê e já está experimentando certa invasão de sua privacidade?

(Mais cauteloso que eu é o Jorge Herrmann, grande desenhista: sendo colorado numa família de gremistas, ele não pressiona o filho a ser colorado, porque lembra de sua opção dissidente e quer preservar para o menino o direito de fazer sua vida com autonomia também nisso.)

Bom, desculpem aí o leitor e o Benjamim quando ler, mas vou mencionar uma cena entre nós, com a delicadeza possível. Foi num momento trivial da vida, em que ele me pediu para fazer determinada coisa, de que não lembro mais, e eu respondi que era preciso esperar um pouco – pais ensinam aos filhos principalmente a esperar, no fim das contas. “Quanto tempo?”, ele quis saber. E eu disse: “Quinze minutos”. Afianço ao leitor que era mesmo necessário esperar tanto assim.

E como controlar essa espera? Difícil. Sugeri então a ele acompanhar pelo relógio – e alcancei o meu, de pulso. Relógio com ponteiro, com aquela lógica matemática de base 12, que a gente demora para assimilar, mais do que as contas de base 10. Mostrei o ponteiro maior e disse: “Quando este aqui chegar no 8, chegou a tua hora, passaram os 15 minutos”.

Ele pegou o relógio e realmente ficou esperando, naturalmente fazendo outras coisas, impaciente às vezes, mas em geral de boa paz. Antes que chegasse o limite fixado, ele me disse que queria ganhar um relógio. Eu concordei, claro; quando encontrássemos um bacana, não logo – aprender a esperar, mais uma vez.

Ainda não o compramos, e ele volta e meia lembra da promessa. É um filho pedindo para marcar o tempo, um menino aprendendo a ler letras e números, a este velho pai com as vistas já meio cansadas delas e deles, não dele. Fiquei tentado a contar para ele que Cronos foi o pai de Zeus, e que para nascer enfrentou seu pai Uranos (castrou-o, para ser mais exato) para impor uma nova era, um novo tempo, presidido agora por ele, o senhor do tempo, depois sucedido por Zeus, que começou novo ciclo. Mas não contei nada, que essa hora ainda não chegou.

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