sábado, 31 de março de 2012



01 de abril de 2012 | N° 17026
PAULO SANT’ANA


O pé da canastra

Foi divulgada a notícia de que o ex-presidente Lula ficou curado do câncer na laringe.

Junto com a divulgação, foi dito pelos médicos que não se pode falar em cura definitiva, só vindo a se conhecer isso num prazo de cinco anos.

A notícia, a par de ser auspiciosa, foi mais interessante para mim, que também vou ter de esperar cinco anos para saber se estou definitivamente curado.

Definitivamente não é bem o caso: eu e Lula, daqui a cinco anos, podemos não ter retornado ao câncer, mas dali em diante decorrerão mais cinco anos de possibilidade de volta da doença.

Esse prognóstico com prazo é meio fajuto: porque qualquer pessoa, por mais saudável que seja, pode vir a ter câncer dentro dos próximos cinco anos.

Eu sei o que os oncologistas querem dizer: que o Lula tem de esperar cinco anos para ver se não acontecerá uma recidiva: ou seja, se o mesmo câncer que teve não se manifestará novamente na laringe ou em outro qualquer lugar do organismo.

Mas não deixa de ser interessante que os cancerosos tenham um prazo de validade para a cura de seu câncer.

Depois de curados!

Melhor seria se o médico dissesse o seguinte: “Presidente Lula, o senhor não tem mais câncer. O senhor e mais uns 7 bilhões de pessoas que existem na Terra, com exceção dos que têm câncer, estão agora sem câncer. Mas o senhor e os outros 7 bilhões correm o risco de vir a ter câncer nos próximos cinco anos. Todos”.

Durante três anos, jogamos cartas eu, minha mulher e mais dois casais de amigos.

Vou contar como aconteceu o fim dessa reunião tão agradável.

Nós seis, as três mulheres, eu e os dois maridos, jogávamos canastra e no meio do jogo jantávamos.

Durante três anos, enquanto jogávamos cartas, o pé de alguém vinha sorrateiramente, por baixo da mesa e da toalha, fazer carinho na minha perna.

Durante todo esse tempo, torci secretamente para que aquele pé que coçava minha perna carinhosamente fosse o da nossa amiga mais bonita.

Aquele contato epidérmico entre o pé secreto e a minha perna era muito mais atraente para mim do que o próprio jogo de cartas.

Todos os sábados, eu aguardava ansiosamente que chegasse a hora de jogar cartas para receber aquelas carícias secretas por debaixo da mesa de jogo.

Até que um dia, num impulso, desci a mão pela minha perna e segurei fortemente o pé que me acariciava. Segurei forte, cravando a unha no pé intruso. Não sei por que eu queria identificá-lo daquela forma.

Um dos dois maridos que jogavam cartas conosco gritou veementemente:

– Larga do meu pé!

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