sexta-feira, 16 de março de 2012


Eliane Cantanhêde

Cachoeira

BRASÍLIA - Carlinhos Cachoeira, simpático e bem relacionado como todo bicheiro que se preze, some e aparece num estalar de dedos.

Como o PSD do prefeito Gilberto Kassab, Cachoeira não é de esquerda, nem de centro, nem de direita. Ou seja: topa todas.

Como o publicitário Marcos Valério, pivô e até agora a única "vítima" do mensalão, Cachoeira é também apartidário. Diz o ditado que "quem vê cara não vê coração". Com eles, não interessa a cara, o coração e muito menos o partido. Atacam ora de PT, ora de DEM, ora de PSDB...

E, como o jornalista Durval Barbosa, que explodiu o esquema do então governador José Roberto Arruda no DF, Cachoeira sempre guarda uma carta -ou melhor, uma gravação- na manga para acossar não os adversários, mas, sobretudo, os aliados, os clientes e até os amigos.

Foi a gravação de uma conversa entre quatro paredes de Cachoeira com Waldomiro Diniz, ex-assessor do PT nas CPIs contra os outros e então presidente da Loterj (loteria do Rio), que detonou o primeiro escândalo do governo Lula. Waldomiro já era o braço direito de José Dirceu.

Se não me falhe a memória, nunca se soube ao certo quem e por que gravou aquele diálogo, em que Waldomiro pedia propina para o bicheiro. O percentual era de 1%, mas os valores não tinham nada de modestos.

Passam-se os anos, e surge nova fita de um petista com Cachoeira, que empurra o senador Demóstenes Torres (DEM) para o constrangimento de ter de explicar a geladeira e o fogão importados que ganhou de casamento do bicheiro. Candidamente, o senador justificou que são amigos. Ah, bem... não fosse Demóstenes promotor de Justiça, homem conceituado, uma voz pela ética no Congresso.

Do escândalo de Waldomiro ao constrangimento de Demóstenes, lá se foram nove anos, e a cachoeira de propinas e de presentes ainda pode respingar em muita gente por aí -apartidariamente.

elianec@uol.com.br

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