quinta-feira, 22 de março de 2012



22 de março de 2012 | N° 17016
CLAUDIA TAJES


São Patrício e São Cristóvão

No último sábado, fato raro, meu filho saiu a pé. Ele e os amigos, que há pouco espalhavam seus carrinhos em miniatura pela casa, agora têm carteira de motorista, um dos eventos mais aguardados de suas breves biografias. A explicação para a recaída de pedestre: era Noite de São Patrício.

Eu que não havia notado ou antes nem se falava em São Patrício por aqui? De repente, a gurizada espera o 17 de março com ansiedade pela festa nos bares de inspiração irlandesa. Patrono daquele alcoólico país, Patrício é comemorado, inclusive em Porto Alegre, com a cor verde e muita, mas muita cerveja. Minha alegria atravessou o mar quando entendi ser essa a razão de o carro do filho permanecer quieto na garagem.

A roda surgiu há quase seis milênios e dá para apostar que não foi uma mulher das cavernas a responsável por sua invenção. Os sumérios, e possivelmente não as sumérias, inventaram a carruagem (e também a cerveja). Um ferreiro escocês inventou a bicicleta, Henry Ford é o pai do automóvel. Sem machismo, são os fatos: a história do carro é masculina.

O carro transfere poder ao homem, o que pode ser perigoso no caso dos imaturos, dos frustrados, dos complexados. Piada com um bom fundo de verdade, diz-se que muitos, em lugar de procurar um especialista em disfunções sexuais, preferem comprar um carro grande e potente.

Experiência própria: em um domingo, ultrapassei uma supercaminhonete que ia devagar pela freeway. Foi o que bastou para despertar o Maníaco da Estrada no motorista. Em segundos, ele me deixou para trás. Pelo vidro, mostrou um revólver antes de sumir.

Psicopatas à parte, não por acaso o filme Drive, em cartaz na cidade, ganhou tantos fãs entre os guris. O protagonista, sem nome e de poucas falas, faz de tudo para proteger a mocinha, saindo do seu Mustang apenas para o essencial. O motorista que todos queriam ser, o carro que todos queriam dirigir. E o ator é o Ryan Gosling, o que vale ainda mais o ingresso, e também para as gurias.

Meninos crescem rápido, mas alguns demoram a entender que carro não é brinquedo. Se beber, não babe, eis a ladainha a ser repetida dia e noite para eles. Assim como não custa lembrar, a cada saída, que a operação Balada Segura está nas ruas, de olho em quem abusa do trago. Um corpo a corpo recompensado ao ver o filho a pé para festejar São Patrício. Valei-me, meu São Cristóvão.

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