segunda-feira, 26 de março de 2012



26 de março de 2012 | N° 17020
NOSSOS FILHOS | VIVIAN EICHLER


Os “terríveis” dois anos

Editora de Mundo, 34 anos, mãe do Santiago, dois anos

Há exatos dois anos, o Santiago chegava para revolucionar as nossas vidas. Venho me preparando mentalmente para essa data. E tomando atitudes. Por exemplo, na semana passada, criamos coragem e cortamos os cachinhos desgrenhados, virgens, que conferiam ao nosso pequeno um visual de anjinho com um quê de centroavante argentino.

– Faz um corte bem com cara de guri – orientou o pai ao cabeleireiro.

Apesar da determinação, bastou o barulho daquela maquininha para nos emocionarmos vendo o visual do nosso bebê se transformando.

A casa também está mudando. A cadeirinha alta e cheia de apetrechos, que vinha servindo de cabide, saiu da sala. Em poucas semanas, uma cama ocupará o lugar do berço. Um roupeiro grande vai substituir a cômoda com trocador de fraldas. E o penico já está no banheiro – até agora tem servido mais de banquinho, mas permanece num cantinho, à espera do dono.

Olho aquele menino de bermudão, sem camisa, cabelo curto, suado de tanto correr, que come sozinho e toma no copo sem virar o suco e me questiono: onde está o meu bebê?

A cada dia, nossas conversas têm mais jeito de diálogo. Ele me pergunta o que estou fazendo, conta o que comeu, com quem brincou. Aponta na geladeira o que quer comer. Canta Atirei o Pau no Gato e Boi da Cara Preta inteiras, torce para o Relâmpago McQueen ganhar a corrida e nos diverte imitando o lobo mau.

Os dois anos são um marco de transformação do neném para alguém que tem vontade própria, testa limites, mas ainda, na prática, é um bebezão. A fase é chamada de “os terríveis dois anos”. É como resume a psicóloga Denise Scalamato Duarte, em um bom papo sobre as características dessa faixa etária. Pergunto o que virá pela frente. “Prepare-se”, avisa ela:

– De zero a cinco anos, a fase que gera mais conflito interno é a dos dois anos, porque a criança está aprendendo a lidar com o desejo e as pressões do ambiente.

Traduzindo: eu que me achava PhD em birra ainda não vi nada.

Posso esperar também que, nos próximos meses, o meu filhinho continue achando que tudo é dele, mas ao poucos descubra o que significa brincar com os amigos – até o momento, ele brinca “ao lado” dos amigos, não “em conjunto”, diz Denise. Os dois anos, enfim, são os primórdios da socialização, o boom da linguagem e marcam o amadurecimento.

Que venham, então, os dois anos, os três, os quatro e assim por diante. Um mais encantador que o outro.

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