sexta-feira, 1 de abril de 2011


RUY CASTRO

Marcas de fantasia

RIO DE JANEIRO - Não se trata de voltar ao tempo em que crianças tomavam algo chamado óleo de fígado de bacalhau sem espernear. Ou que os remédios traziam como chancela apenas o sobrenome de seu criador ou fabricante, como o Sal de Uvas Picot, as Pílulas de Vida do Dr. Ross, o Vinho Reconstituinte Silva Araújo, a Loção Cura Caspa Brandão, e isso parecia bastar.

Longe também vai o tempo em que o nome no rótulo já indicava para o que servia o produto: Astringosol (antisséptico bucal), Rugol (pomada para rugas), Odo-ro-no (desodorante), Nicotan (pasta dental para fumantes), Antisardina (creme para a cútis, como se anunciava) ou Lavolho (colírio).

Claro que, às vezes, a pessoa podia se enganar: quem pedisse Pyrex na farmácia, achando que era uma anfetamina, descobria que se tratava de uma fôrma de cozinha, própria para levar ao forno.
O normal era que remédio tivesse nome de remédio -Melhoral, Cibalena,

Atroveran, Enteroviofórmio, Colubiazol. E assim foi até há pouco. Mas, ultimamente, os laboratórios adotaram a tática de vender otimismo, ilusão e prazer na marca de fantasia. Os novos remédios -alguns deles, tremendos torpedos- evocam bombom, filme de arte, teatro, até sexo.

Daí que alguns dos antidepressivos mais populares de hoje se chamam Serenata, Città e Exodus. Ou que um antibiótico atenda por Astro. Há também um remédio para a menopausa chamado Aplause.

E outro, para dores nevrálgicas, com o nome de Lyrica. Um conhecido anticoncepcional se chama Diane 35. E uma espécie de inalante leva o sugestivo nome de (com todo respeito) Penetro. Deve ser por isso que chamam de marca de fantasia.

Como hoje frequento mais farmácias que botequins, até sem querer sou informado dessas novidades. E, como bom espírito de porco, meu favorito é um remédio para hipertensão chamado Capoten.

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