Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
04 de fevereiro de 2010 | N° 16236
LETICIA WIERZCHOWSKI
Querida Mariana
Como vai a vida aí na sua casa nova onde se vê o rio e o mar? Você tem mergulhado, corrido na areia e chupado picolés suficientes para todos esses dias de verão?
Sabe, Mariana, aqui onde estamos é sempre uma delícia, os dias são feitos de verde e de azul, e eu me refugio dos ruídos e da pressa da vida cotidiana entre as árvores do quintal e as areias da praia. Mas sinto saudades suas, ah, como sinto...
Você é a menininha dos meus dias, e é com as suas bonecas que revivo a minha própria infância – nós, que somos tão parecidas nessa mania de inventar.
As suas histórias, as suas danças, as suas inúmeras filhas repletas de roupas, bercinhos, mamadeiras e manias são um pouco as minhas filhas também, bonecas perdidas no tempo daquela casa da Rua 24 de Junho, que você nem chegou a conhecer, Mariana...
É curioso que eu tenha engendrado dois filhos homens e hoje viva entre pranchas de surfe na areia e carrinhos de corda – nasci numa casa basicamente feminina, e hoje sou a única entre homens.
Vou aprendendo, de todo jeito, os gostos, os melindres, as façanhas masculinas que desde o berço me foram dadas a acompanhar. E me divirto bastante... Nada de rendas, biscoitos caseiros e penteados, Mariana, para mim a vida é feita de bermudas, sanduíches e videogames.
Sabe, Mariana, a sua mãe foi uma menina bem mais quieta do que eu. Era preciso convidá-la muitas vezes, até que ela, por pura delicadeza, se comprazia brincando comigo no quintal. Eu dançava, cantava e rebolava, e a sua mãe era mais discreta, apreciava de bom grado fazer parte da audiência. Aí veio você.
Menininha dos olhos pretos, fuzilica, miniatura da sua mamãe. Grande contadora de histórias, cantora e atriz, cuidadora de incontáveis bonecas cujos berços e utensílios atolam irremediavelmente seu quarto de dormir.
Mistura das delicadezas paternas e maternas, graciosa menina de patins, o mais amorável dos sorrisos no álbum de retratos; mas há alguma coisa de meu em você, alguma coisa impalpável, que se acende quando os adultos se reúnem, quandos os armários de guardados se abrem, e você finalmente encontra matéria, plateia e palco. Pois você não veio me visitar nesse verão, Mariana...
João reclamou muitas vezes a sua ausência. A sua rede de pesca gastou os dias encostada à parede, longe do mar. A sua cama permaneceu fechada, dormindo sua solidão. Pequenos detalhes gritam as saudades que sentimos todos...
Mas o sol segue brilhando, e o mar convida aos mergulhos, tanto aqui como aí, Mariana. O tempo passa rápido, e me consolo dos dias que se escoam, fugidios, pensando em rever você, minha menininha. Histórias não hão de faltar: quando nos vermos, finalmente quero que você me conte todas.
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