quarta-feira, 6 de janeiro de 2010



06 de janeiro de 2010 | N° 16207
PAULO SANT’ANA


Turismo na ponte

Estamos na localidade de Marques de Souza, na estrada que leva ao município de Travesseiro.

Foi anteontem. Pela estrada caminha um grupo de umas 10 pessoas. De repente, se abateu a chuvarada. E foi tanta água, que o grupo de pessoas, em poucos instantes, não sentia mais o chão sob os seus pés.

Restou a elas se segurarem nos arbustos. Iam de arbusto a arbusto, nadando, até que conseguiram atingir uma árvore, onde se alojaram, agarradas aos galhos e sentadas nos troncos.

Pois ali em cima da árvore, enquanto jorrava o jato de água da enxurrada quase a seus pés, tiveram de esperar oito longas e intermináveis horas até serem resgatadas por equipe de salvamento.

Há notícia de que no mesmo local um homem ficou cerca de 10 horas em cima de uma árvore, refugiando-se da enchente, até ser salvo por uma equipe de resgate que mantinha contato verbal com ele à distância, durante cinco horas, mas não conseguia alcançá-lo.

Havia uma mulher grávida entre os que se abrigaram no alto da árvore. Quando começou a enchente, por sorte, uma menininha de três anos conseguiu fugir correndo da enxurrada, auxiliada por uma mulher.

Agora, os meus leitores imaginem a odisseia por que passaram essas pessoas, debaixo de chuva fortíssima e tempestade, segurando-se em galhos, sem alimentar-se, sem esperança de socorro. O quanto essa situação deve tê-los aterrorizado.

Muda a cena nesse teatro de pesadelo que cerca essas inundações aqui no Estado.

Agora, estamos na manhã de ontem, na ponte importante que liga pela estrada Santa Maria a Santa Cruz, no município de Agudo.

O tempo até que tinha melhorado. Isto fez com que entre 20 e 30 pessoas fossem olhar de cima da ponte o caudaloso Rio Jacuí passar por baixo, um espetáculo à parte aquele jato enérgico de água se arremessando rio abaixo.

Os meus leitores já sabem o que aconteceu? Pois caiu a ponte e se precipitaram para o rio cerca de 20 dos que assistiam turisticamente à enxurrada.

Até ontem à tarde, tinham sido resgatadas somente oito das pessoas que assistiam à enchente do rio.

Outras estavam desaparecidas.

Mas que tragédia! Quem é que anda enticando com a natureza que a faz assim manifestar-se com essa fúria das águas?

Afinal, o que está havendo? Antes não era assim. Essas tragédias de quedas de pontes, deslizamentos, soterramentos, aconteciam uma vez que outra.

Hoje, pontuam a rotina. É muita água rolando. É muita gente morrendo afogada ou sob rochas e terra. É muito desastre provocado pela natureza.

Mas o que será que está havendo? Uma ponte bucólica se derruba sobre um precipício e desaparecem pessoas em Agudo.

E há dezenas de desaparecidos nas inundações do Rio Grande.

O que está havendo? Que mistério é esse?

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