terça-feira, 8 de dezembro de 2009



08 de dezembro de 2009 | N° 16179
MOACYR SCLIAR


Um grande dia para a humanidade (aguardem)

A propósito de preservação ambiental e preservação da saúde, recebi várias mensagens acerca do texto que aqui escrevi sobre o tabagismo no Brasil, problema que foi objeto de uma grande pesquisa realizada em conjunto pelo IBGE e pelo Instituto Nacional do Câncer, do Ministério da Saúde. O assunto é importante, decisivo mesmo, e quero comentar três dessas mensagens. A primeira é do pneumologista Dr. José Miguel Chatkin, apoiando o texto.

A segunda é do Dr. Paulo de Tarso Roth Dalcin, presidente da Sociedade de Pneumologia e Tisiologia do Rio Grande do Sul (SPTRS), dizendo que a SPTRS está “inteiramente à disposição para somar esforços na divulgação de um Dia do Basta para o cigarro”.

A terceira é do também pneumologista (não estranhem a reiterada menção à pneumologia: como outras, a especialidade, no RS, é verdadeiramente gloriosa) Dr. Luiz Carlos Corrêa da Silva, coordenador do Programa Fumo Zero da Associação Médica do RS (Amrigs).

Lembra o Dr. Luiz Carlos que o dia 31 de maio foi instituído pela OMS como o Dia Mundial sem Tabaco, e poderia, portanto, ser o dia D para os fumantes pararem de fumar. E conclui: “Esse é assunto para as entidades médicas, as ONGs, e os diversos segmentos da sociedade tocarem em frente”. Ao que completa o Dr. Chatkin: “Logo após o Dia do Basta, deveria seguir-se um período de apoio (orientações, terapia comportamental, medicamentos)”.

Ótimas ponderações. Confirmam o que já se sabe: é preciso saber enfrentar com inteligência, conhecimento e sensibilidade a dependência do fumo, algo profundamente arraigado, tanto do ponto de vista químico quanto do psicológico e cultural. As pessoas querem deixar de fumar, como mostra a pesquisa; mas precisam de ajuda para isso. A iniciativa da OMS é importante; será que é clara e contundente o bastante?

“Dia sem Tabaco” sugere que se deve parar de fumar um dia, mas é só um dia? Não deveria ser o primeiro dia de uma nova vida? Porque tabagismo é parte de um modo de viver, que inclui vários rituais: comprar o maço de cigarro, abri-lo, acender o cigarro, aspirar a fumaça – a pessoa faz coisas, e dessa maneira descarrega um pouco da ansiedade.

Deixar de fumar significa, para o fumante, começar uma nova etapa em sua vida. Momentos transcendentes, como esse, são assinalados com aquilo que os antropólogos chamam de ritos de passagem (o caso da formatura, da cerimônia de casamento). O Dia do Basta é isso, um rito de passagem: passagem para a saúde.

Família e amigos desempenham aí um notável papel. Há um exemplo já antigo, mas muito eloquente, aconteceu com Oswaldo Cruz, o pioneiro da saúde pública brasileira. Em menino, ele começou a fumar. O pai, que era médico (e que trabalhou em saúde pública), disse ao filho que não fizesse aquilo – advertência notável porque à época, final do século 19, os problemas do fumo não haviam ainda sido quantificados.

Oswaldo, garoto rebelde, retrucou: “Mas o senhor também fuma”. Naquele momento o Dr. Gonçalves Cruz deixou de fumar – para sempre. Hoje, muitos adultos estão deixando de fumar porque os filhos lhes pedem. O mesmo acontece com grávidas, cuja consciência é despertada pela perspectiva da maternidade.

As estatísticas mostram que o tabagismo está chegando a seu ocaso (os fabricantes de cigarros vão ter de procurar outro meio de ganhar dinheiro). Precisamos apenas usar o que já sabemos, coordenar esforços no sentido de ajudar fumantes.

Um Dia do Basta será também o dia de nossa independência, de nossa realização. Um grande dia para a humanidade.

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