terça-feira, 8 de dezembro de 2009



08 de dezembro de 2009 | N° 16179
LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Historinha de sabiá

Tenho hóspedes em casa. Uma vez mais pássaros desconhecidos montaram seu berçário em um compartimento anexo à cozinha, que é onde conservo os botijões de gás. Ouço seus diálogos e suas melodias, mas não me atrevo a abrir a porta dos limites onde estabeleceram seu ninho. Sinto receio de que os assuste.

Em outros anos acabei decifrando suas identidades: eram andorinhas, cambacicas e até uma ave azul-esverdeada, de que nunca descobrirei o nome. Agora respeito sua privacidade e chego a imaginar se meus visitantes não serão sabiás.

Uma noite dessas, acordei com um som musical, que a princípio não localizei na memória. Olhei o relógio: eram quatro horas da matina. Mas pouco a pouco o fui definindo como a sinfonia de um sabiá que me chegava da rua.

Tardei a conciliar no sono, porque havia algo de ansiedade naqueles acordes. Fiquei me perguntando se o sabiá não cantava para assegurar à companheira que estava bem ali, a postos para defender a ninhada mesmo numa hora tão extrema. Não era uma serenata de amor, era todo um hino de solidariedade.

No outro dia, corri à enciclopédia mais próxima e tirei um curso completo sobre o meu colega de insônia.

Aprendi que o sabiá não é único, mas simples integrante de uma vasta família. Um dos pássaros canoros mais apreciados do Brasil, dele são conhecidas nada menos do que 11 espécies.

As mais comuns são as do sabiá-laranjeira, como estes que me dão a honra de sua boêmia companhia, e o sabiá-pardo, espalhado por todo o país. Há ainda o sabiá-branco, o sabiá-coleira, que tem uma mancha semilunar branca na garganta, o sabiá-cica, o sabiá-da-praia, de cauda longa, o sabiá-una, ou preto, e outros menos votados.

Seus ninhos são construídos sobre forquilhas de ramos flexíveis e raízes, e revestidos de barro. Os ovos, em número de quatro, são esverdeados, com pintas vermelho-ferrugem. Os filhotes são criados no período quente do ano, de setembro a fevereiro.

De um modo geral, vivem bem em cativeiro, preferindo uma alimentação de frutas e massas. Suas gaiolas e viveiros devem ser grandes, para que possam cantar tão bem quanto em liberdade.

Essa foi a única parte de que não gostei. Por que aprisionar os sabiás, se sua vocação é a doce liberdade? Mesmo despertando, ansiosos, as pessoas às quatro da matina, seu universo são os vastos céus sem limites e sem grades.

Um ótimo feriado para quem está de feriado hoje. E uma terça-feira super gostosa para os demais

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