sábado, 5 de dezembro de 2009



05 de dezembro de 2009 | N° 16176
NILSON SOUZA


Enigmáticos

Estava pesquisando sobre os enigmas do escritor Edgar Allan Poe quando caí num blog chamado portaldastrevas, mantido por alguém que se autodenomina mortícia–lacrimosa e que recebe os visitantes com uma saudação relativamente amistosa, mas nada entusiasmante: “Bem-vindo(a) ao inferno”.

Dei uma volta por lá e, entre poemas mórbidos, odes ao suicídio e desenhos de enforcados, encontrei o que procurava. Uma biografia do escritor norte-americano, obviamente destacando o lado escuro de sua atormentada vida. Voltei ao meu texto pensando em como o mundo ficou pequeno: a autora do tétrico registro pode ser alguém que mora na Ilha da Madeira ou uma blogueira que trabalha ao meu lado.

De qualquer maneira, sou-lhe agradecido pela involuntária contribuição, já que aprendi um pouco mais sobre o autor de O Corvo. Descobri, inclusive, que ele foi dono de jornal em Nova York.

Por que me interessei por Poe? A menina dos meus olhos recebeu como tarefa escolar a leitura em inglês de cinco textos do contista. Saí atrás de seus livros e encontrei, numa das novas livrarias da cidade, uma verdadeira preciosidade: as obras completas do escritor norte-americano por R$ 19. Ela leu um dos poemas e me alertou: “O poema tem um enigma que ainda não consegui decifrar”.

Voltei correndo para a pesquisa. Era uma coisa simples: juntando-se a primeira letra da primeira linha, com a segunda letra da segunda linha e assim por diante, chega-se ao nome de uma mulher, uma poetisa, com quem Poe trocava correspondência e, possivelmente, afetos. Pelo que entendi, ele gostava de passar recados cifrados nos seus textos, especialmente de formar acrósticos para homenagear amigas e amadas. E assim cativava leitores.

Enigmas são sempre fascinantes. Poucas coisas são tão prazerosas quanto decifrar uma charada. Chega a ser difícil de entender o que leva uma pessoa a despender tempo e energia em busca de uma resposta que na maioria das vezes não tem outra serventia a não ser o próprio prazer de chegar-se até ela.

Mas somos assim. Minha mulher adora resolver palavras cruzadas e não é incomum que eu adie meu sono para tentar ajudá-la, mesmo quando ela não me solicita ajuda.

Foi fácil solucionar o enigma de Poe. Mas fiquei com outra curiosidade para saciar: o que leva alguém a alimentar diariamente um blog tão lúgubre? Sinceramente, não sei.

Mas sei o nome da moça: segunda letra do título desta crônica, última da primeira palavra do primeiro parágrafo, primeira da última palavra do segundo parágrafo, vigésima quinta letra do terceiro parágrafo, trigésima segunda do quarto, e última do quinto. Respostas para o e-mail acima.

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