quinta-feira, 1 de outubro de 2009



01 de outubro de 2009 | N° 16111
PAULO SANT’ANA


Fogem 330 presos por mês

Soou como um escândalo uma informação divulgada ontem: por mês, fogem 330 presos do regime semiaberto no RS.

Não entendi por que as pessoas se alarmaram.

E, divulgada a informação, desatou-se um forte delírio de bestialógicos incontíveis.

Logo os neófitos principiantes de política carcerária desataram a pronunciar absurdas tolices.

Fizeram a conta e viram que são 3.900 os presos que fogem por ano do regime semiaberto, uma quantia colossal, quase o mesmo número de presos hospedados no Presídio Central.

E não sabem os neófitos principiantes de teoria prisional que se estes 3.900 presos não fugissem do regime semiaberto o Estado não teria onde pô-los.

E é exatamente para isso que o Estado criou o regime semiaberto, isto é, para que fujam. Para desová-los nas ruas. E assim o Estado vê diminuídas as suas despesas exatamente em 3.900 presos condenados.

Se fosse mantê-los presos, o Estado não teria verba para pagar os excessos salariais dos príncipes do funcionalismo nem as migalhas destinadas aos plebeus do funcionalismo pela Lei Britto.

O coice na razão mais cruento que foi dado ontem pelos neófitos principiantes das teorias carcerárias foi o que ouvi no rádio: “É preciso fechar o semiaberto”. Ora, fechar o semiaberto ou o regime aberto implica enxugar gelo, pentear macacos, catar piolhos com luvas de boxe e quejandos.

Como dizem burrices no microfone! Ora, “fechar o semiaberto”, como se fosse fechar uma porta entreaberta, só que uma porta entreaberta institucional.

O semiaberto foi criado para permitir um número cem vezes maior de fugas lá do que no regime fechado, mas sem estardalhaço, na surdina. Entenderam agora os leitores o tamanho da sacanagem do sistema?

Fogem às catadupas os presos do semiaberto para que os governos oxigenem seus orçamentos com essa espúria forma de jogar lixo debaixo do tapete.

Isto é uma deslavada sem-vergonhice.

Outra coisa que nunca entendi é por que chamam esse regime de semiaberto.

Como podem denominá-lo assim hipocritamente se a finalidade desse regime é tornar fácil a fuga dos condenados? Ou melhor, a finalidade central deste regime é aliviar o caixa dos governos, preso depois de fugir deixa de ser despesa para o Tesouro. Ele, depois de fugir, passa a dar despesas para a sociedade, que gasta os tubos com segurança privada para se proteger dele.

Aberto ou semiaberto, tudo é a mesma coisa, não é questão de conteúdo, é questão de nomenclatura.

Muitos presos transformam o semiaberto no maior achado de suas vidas. Chama-se semiaberto para que os presos fujam antes de três dias depois de terem sido mandados para lá.

Ou o preso foge, ou então se revela um estratego mais genial ainda: fica dormindo à noite no semiaberto, isto é, assaltando na rua durante o dia, quando as autoridades pensam que ele está trabalhando, fugindo dias depois de lá à noite, depois de forrar o poncho com o produto dos assaltos, quando as autoridades pensavam que ele estava dormindo.

Genial.

E tudo acontece porque o Estado está falido. Se o Estado não consegue controlar o regime de concessão de carteiras de motoristas, que engendrou uma corrupção alarmante, como vai controlar no semiaberto se há presos dormindo ou presos fugindo? Longe do Estado tal cálculo e tal meticulosidade.

Não tem pessoa mais azarada do que eu: na sociedade gaúcha há duas entidades falidas: O Grêmio e o Estado.

Como sou gremista e sou gaúcho, sofro, peno, me aflijo em dobro, os meus dois entes primais estão falidos.

Não tenho recursos para garantir à sociedade agentes penitenciários eficientes nem jogadores ótimos para o Grêmio.

Eu que me... rale!

Nenhum comentário: