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quinta-feira, 1 de outubro de 2009
01 de outubro de 2009 | N° 16111
LETICIA WIERZCHOWSKI
“Os dias de verão vastos como um reino”
Fui recentemente a Portugal, e uma das minhas metas era trazer na mala a bibliografia poética de Sophia de Mello Breyner Andresen. Eu conhecia pouco da sua obra, mas adorava-a muito.
Aliás, soa estranho que essa genial poeta (cujos poemas nem precisam ser traduzidos para o nosso mercado) tenha apenas uma única antologia publicada no Brasil: Poemas Escolhidos, Companhia das Letras, 2004 (ano, aliás, em que Sophia faleceu).
Se Sophia ainda é pouco conhecida dos brasileiros, seu filho, o escritor Miguel de Souza Tavares, já atravessou o Atlântico e começa também a fazer sucesso por aqui – ele, que em Portugal é um sucesso absoluto de vendas.
Voltando à poesia de Sophia de Mello Breyner, minha admiração guarda boa companhia: há alguns anos, Maria Bethânia fez um disco inteiro baseado nos seus poemas – as duas são amantes do mar, e a obra de ambas percorre praias desertas, águas verdes e segredos marinhos.
Qual não foi o meu espanto ao chegar em Lisboa e encontrar os poemas de Sophia espalhados por muitos recantos da cidade. Numa das paredes da antiquíssima igreja da Glória, lá estava a poesia de Sophia a louvar o mar.
Em muros, esquinas, murais de azulejos, até mesmo no Oceanário de Lisboa, onde ela é uma espécie de madrinha: os lisboetas adotaram os poemas de Sophia de Mello Breyner Andresen para cantar as belezas portuguesas, seu horizonte azul, as águas do Tejo, as praias douradas do Porto – ela, que cresceu lá, e cuja poesia sempre esteve impregnada de deuses e segredos sussurrados, de praias desertas e mitológicas figuras gregas.
Foi assim que me afeiçoei ainda mais a Lisboa, que zela com orgulho pela poesia de Fernando Pessoa, mas que encontrou espaço para fazer também dos versos de Sophia de Mello Breyner uma louvação aos encantos portugueses.
No entanto, embora os versos de Sophia estejam espalhados por ruas e catedrais, foi-me bastante dificultosa a tarefa de comprar a sua bibliografia.
Incrivelmente, seus livros estavam longe das livrarias lisboetas, e tivemos, meu marido e eu, que bater muita perna até reunir o nosso precioso tesouro – o qual, ao final da viagem, trouxemos para casa cheios de contentamento.
Da poesia de Sophia, eu amealhei o título desta pequena crônica que agora escrevo, olhando com muita saudade os dias que lá ficaram entre as ladeiras de Lisboa e o pacífico Tejo. Vastos como um reino, foram esses nossos dias no final do verão português. Ai, que vontade de voltar...
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