quarta-feira, 1 de julho de 2009



01 de julho de 2009
N° 16017 - PAULO SANT’ANA


Morri ou não morri

Oobituário de Zero Hora noticiou ontem a minha morte. Muita gente pensou que era eu que tinha morrido.

Na verdade, quem tinha morrido era o representante comercial Paulo Sant’Anna. Como se vê, eu não morri por apenas uma letra.

Foram três anúncios para enterro de Paulo Sant’Anna na página 36 de ZH de ontem.

Era caçador o Paulo Sant’Anna que morreu. Gostava tanto de caçar, disse o obituário, que, quando proibiram a caça aqui no Rio Grande do Sul, ele viajava para caçar na Argentina e no Uruguai.

Mas, a partir da leitura em ZH de que morrera Paulo Sant’Anna, estabeleceu-se, imaginem os leitores, uma confusão em todo o Estado.

Milhares de leitores, telespectadores e ouvintes deitaram-se a telefonar para a Radio Gaúcha, e RBS TV, muitos deles chorando e lamentando a histórica e trágica ocorrência.

Disseram-me ontem à noite que correra um boato na Restinga de que meu velório seria ontem no Gigantinho e o enterro no São Miguel e Almas, hoje.

Foi o que bastou para que centenas de ouvintes telefonassem para a Rádio Gaúcha perguntando se era verdade que estavam distribuindo ingressos de cortesia para os dois eventos, não iriam comprar ingressos, pois aquela hora já deviam estar todos nas mãos de cambistas.

Mas os cambistas já começavam a se deslocar para os locais do velório e do enterro ante a perspectiva de que fariam bons negócios.

Uma senhora de Pelotas telefonou para o Jornal do Almoço chorosa e gritava: “Ele era gênio, previu a própria morte: faz uns 90 dias que dizia na televisão e em sua coluna de ZH que ‘faltava pouco’, que tinha nove doenças e que queria ser sepultado em mausoléu ao lado de Mario Quintana e Lupicínio Rodrigues”.

Um outro leitor telefonou para dizer que não acreditava que eu tivesse morrido, eu era um imortal tricolor.

Os presidentes da Assembleia Legislativa e da Câmara de Vereadores, por má interpretação da notícia por parte de suas assessorias, ofereceram os recintos das duas Casas para o velório, mas sem muitas esperanças, entendiam que a minha família iria ter suficiente sensibilidade para me velar em algum bar noturno, ao som de banjos, cavaquinhos e violões.

Pra mal dos pecados, não fui ao Jornal do Almoço por estar sendo alvo no horário de dois check-ups nos hospitais Moinhos de Vento e Mãe de Deus. O programa, acossado por muitos telefonemas inquisitivos teve de divulgar nota oficial de que não era eu o finado dos convites para enterro.

Teve gente que não acreditou na nota oficial do Jornal do Almoço, entendendo que a RBS TV estava escondendo a minha morte com medo de que a população cometesse os mesmos quebra-quebras que ocorreram no dia da morte de Getúlio Vargas, em 1954.

E finalmente quero declarar que não fui eu que morri, mas o Paulo Sant’Anna que morreu era uma pessoa tão querida como eu por todos que o conheciam e só não fui ao seu enterro com medo de que alguém que me visse no velório fosse se ajoelhar nos meus pés achando que eu tinha ressuscitado e três dias depois subiria aos céus e ficaria sentado à mão direita de Deus Pai Todo Poderoso, de onde haveria de vir e julgar os vivos e os mortos.

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